Letícia Catelani, pivô da demissão de dois presidentes da Apex
O presidente Jair Bolsonaro costuma dizer que os cargos em seu governo são preenchidos por critérios técnicos e por mérito. No caso da Apex, a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimento, vinculada ao Ministério das Relações Exteriores, isso não tem acontecido. A agência acaba de perder o seu segundo presidente em três meses. O primeiro, Alecxandro Carreiro, era criticado por não saber falar inglês (um conhecimento esperado de alguém encarregado de promover as exportações brasileiras) e de nunca sequer ter viajado para o exterior. O segundo, Mario Vilalva, era um embaixador experiente, mas não resistiu no cargo pelo mesmo motivo que o anterior: bateu de frente com Letícia Catelani. Diretora de Negócios da Apex, apesar de estar abaixo do presidente na hierarquia da agência, ela é protegida pelo chanceler Ernesto Araújo. Não faltam motivos para isso: ela foi levada ao cargo pelo deputado federal e filho presidencial Eduardo Bolsonaro.
Letícia é ativa nas redes sociais bolsonaristas, onde assina com uma corruptela do seu sobrenome, Catel. Ela tem mais de 20 mil seguidores no Twitter. No Instagram, são quase 34 mil. Empresária do ramo de importações de equipamentos para a indústria, ela foi uma apoiadora de primeira hora da candidatura presidencial de Jair Bolsonaro. Exercia o cargo de secretária-geral de seu partido, o PSL, em São Paulo, até bater de frente com ninguém menos que Gustavo Bebianno, o presidente da sigla. Ele ficou incomodado porque ela não respeitava hierarquia durante a campanha: organizava eventos por conta própria e ligava para Paulo Guedes, atual ministro da Economia, para dar ordens. Letícia foi afastada do cargo por Bebianno, mas seguiu influente na campanha, aproximando-se do núcleo de política exterior de Eduardo Bolsonaro. (Bebianno, como todos sabem, foi o primeiro ministro a ser demitido por Bolsonaro, depois de um desentendimento com um dos filhos presidenciais.)
Pelo visto, o compadrio, e não o mérito, tem sido o principal instrumento para sobreviver na cúpula do governo Bolsonaro.
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