Nenhum país tem tantos presidentes envolvidos com a Odebrecht quanto o Peru
Acusado de ter recebido propina da Odebrecht, o ex-presidente peruano Alan García matou-se com um tiro na cabeça quando a polícia chegou à sua casa para prendê-lo nesta quarta-feira, 17, em Lima. García foi presidente entre 2006 e 2011. Ele já havia exercido o cargo entre 1985 e 1990, quando fez um governo marcado por autoritarismo e violações de direitos humanos. Segundo investigações da Lava Jato no Peru, uma palestra que ele deu no Brasil em 2012 foi uma desculpa para a Odebrecht pagar a ele 100 mil dólares em propina para defender os interesses da construtora. Em nenhum outro país foram emitidas tantas ordens de prisão contra ex-presidentes por causa da Operação Lava Jato quanto no Peru — nem no Brasil, onde Lula está na cadeia e, recentemente, Michel Temer passou quatro dias detido. Aqui está a lista dos ex-governantes peruanos que já foram ou deveriam estar presos:
Alejandro Toledo (2001-2006)
Em fevereiro de 2017, o presidente que imprimiu um forte crescimento econômico ao Peru estava no exterior quando um juiz pediu sua prisão preventiva por 18 meses. Ele é acusado de ter recebido 20 milhões de dólares de propina da Camargo Corrêa e da Odebrecht e de ter usado o dinheiro para comprar imóveis em nome de sua sogra. Toledo está foragido desde então, e vive exilado nos Estados Unidos. No mês passado, ele foi detido por algumas horas na Califórnia por dirigir embriagado.
Ollanta Humala (2011-2016)
Foi preso em julho de 2017 e solto no ano seguinte. O seu julgamento deve acontecer este ano. Os promotores o acusam de ter recebido doação ilegal de campanha da Odebrecht, da OAS e do governo venezuelano.
Alan García (1985-1990 e 2006-2011)
Em novembro de ano passado, no curso de investigações de seu suposto envolvimento com a Odebrecht, a Justiça ordenou que García fosse impedido de sair do país. Ele procurou asilo na embaixada do Uruguai, mas o pedido foi negado. O mandado de prisão que seria cumprido hoje contra ele era temporário, com duração de 10 dias.
Pedro Pablo Kuczynski (2016-2018)
PPK, como é conhecido, ficou apenas 601 dias na presidência. Renunciou em março de 2018 depois que o Congresso do país abriu um processo de impeachment contra ele por "incapacidade moral". Ele é acusado de favorecer a construtora Odebrecht na construção da Estrada do Pacífico e de uma hidrelétrica durante o governo Toledo, de quem foi ministro. PPK foi preso temporariamente na semana passada, no dia 10 de abril, e permanece na cadeia.
Vale lembrar que há outro ex-presidente peruano preso, Alberto Fujimori, por corrupção e crimes de sangue cometidos em seu governo. Ele foi solto em dezembro de 2017 graças a um indulto concedido por PPK. O indulto foi anulado em outubro do ano passado. Internado por problemas de saúde, voltou à cadeia em janeiro deste ano.
O suicídio de Alan García não revela nem se ele era culpado, nem se era inocente dos crimes pelos quais era acusado. O gesto desesperado, porém, é um indicador do quanto a Justiça peruana tem sido implacável com os ex-mandatários do país.
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