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Diogo Schelp

Maduro imita Kim Jong-un, a diferença é que a Coreia do Norte cresce

Diogo Schelp

04/05/2019 04h17

Maduro e Kim

Acima, Nicolás Maduro marcha com militares, na quinta-feira, 2. Na imagem abaixo, Kim Jong-un posa de Grande Líder (Fotos: EFE/Prensa Miraflores e Divulgação)

O ditador venezuelano Nicolás Maduro divulgou, um dia depois de mandar reprimir violentamente os protestos de 1º de maio, um vídeo em que aparece caminhando à frente de um grupo de militares perfilados em uma avenida. Eles estão indo do nada a lugar algum — não há propósito na caminhada, a não ser produzir algumas imagens que procurem mostrar que Maduro ainda tem o apoio das Forças Armadas para continuar no poder. A cena é patética, típica de tiranias personalistas, e lembra muito as fotos que o regime norte-coreano divulga do ditador Kim Jong-un. A composição das imagens é tão perfeita que fica evidente que não há qualquer espontaneidade nelas. São peças de propaganda.

Maduro, que já imitava Chávez, agora imita Kim Jong-un. Fico curioso para ver as próximas imagens oficiais que a "Prensa de Miraflores" vai divulgar. Quem sabe Maduro em um barco enquanto um grupo de soldados se joga na água para dar um último adeus ao líder, como na já clássica cena de um vídeo de propaganda norte-coreana?

Kim Jong-un

(Imagem: Reprodução)

Kim Jong-un comanda uma das ditaduras mais sórdidas do mundo e seu país é um dos mais miseráveis. Não deveria servir de exemplo para ninguém. Ainda assim, pasme, o norte-coreano já conseguiu ser mais eficiente do que seu colega Nicolás Maduro. Há parcos dados econômicos sobre a Coreia do Norte, mas estima-se que o país tenha obtido avanços com pequenas reformas dentro do ainda rigidíssimo controle socialista dos meios de produção. O PIB em 2017, por exemplo, teria crescido 3,7%. Já a Venezuela registrou uma retração de 15% no PIB e uma inflação anual de 2.616% no mesmo ano. A previsão para 2019, segundo  o Banco Mundial, é de queda de 25% da economia venezuelana. Na Coreia do Norte, 60.000 crianças correm o risco de morrer de desnutrição. Na Venezuela, são 300.000 nessa situação. (A população da Venezuela é apenas 19% maior do que a da Coreia do Norte.)

Esses "avanços" norte-coreanos, porém, estão ameaçados. Esta semana, a ONU anunciou que o regime de Kim reduziu a ração distribuída a 40% da população. A escassez de alimentos foi causada por uma queda brutal na colheita, devido à pior seca dos últimos dez anos no país.

Evidentemente, não estou dizendo que a economia da Coreia do Norte deveria ser imitada pela Venezuela. Ao contrário, é muito triste ver um país vizinho, com um povo tão parecido com o nosso em muitos aspectos, ser arrastado para a vala de uma ditadura a la Coreia do Norte.

Sobre o Autor

Diogo Schelp é jornalista com 20 anos de experiência. Foi editor executivo da revista VEJA e redator-chefe da ISTOÉ. Durante 14 anos, dedicou-se principalmente à cobertura e à análise de temas internacionais e de diplomacia. Fez reportagens em quase duas dezenas de países. Entre os assuntos investigados nessas viagens destacam-se o endurecimento do regime de Vladimir Putin, na Rússia, o narcotráfico no México, a violência e a crise econômica na Venezuela, o genocídio em Darfur, no Sudão, o radicalismo islâmico na Tunísia e o conflito árabe-israelense. É coautor dos livros “Correspondente de Guerra” (Editora Contexto, com André Liohn) e “No Teto do Mundo” (Editora Leya, com Rodrigo Raineri).

Sobre o Blog

“O que mantém a humanidade viva?”, perguntava-se o dramaturgo alemão Bertolt Brecht. Essa é a pergunta que motiva esse blog a desembaraçar o noticiário internacional – e o nacional, também, quando for pertinente – e a lançar luz sobre fatos e conexões que não receberam a atenção devida. Esse é um blog que quer surpreender, escrito por alguém que gosta de ser surpreendido.