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Diogo Schelp

Apenas Itamar e Lula terminaram mandatos mais populares

Diogo Schelp

10/05/2019 16h36

Lula

Lula na entrevista que concedeu em Curitiba, em abril (Reprodução)

A pesquisa XP/Ipesp divulgada nesta sexta-feira, 10, revela dados intrigantes que vão além da popularidade crescente do vice-presidente Hamilton Mourão, que chega a superar a do próprio presidente Jair Bolsonaro. Outra conclusão interessante pode ser tirada do gráfico abaixo, que mostra a evolução da aprovação dos últimos presidentes desde o fim da ditadura militar. Itamar Franco e Lula foram únicos que terminaram seus governos com uma aprovacão popular maior do que quando assumiram a presidência. Itamar começou com uma aprovação de cerca de 35% e terminou com mais de 40%. Lula começou com quase 60% de avaliações ótimas e boas e encerrou o segundo mandato com aproximadamente 80%. As quedas mais abruptas de popularidade foram protagonizadas por José Sarney, Fernando Collor e Dilma Rousseff. Fernando Henrique Cardoso, cuja popularidade sofreu uma grande queda no início do seu segundo mandato, recuperou parte do apoio perdido, mas ainda assim terminou com metade da aprovação que tinha no início do seu governo. Já a aprovação de Michel Temer começou muito mal e terminou pior ainda.

O desempenho de Itamar Franco tem uma explicação conhecida: havia baixas expectativas em relação ao vice-presidente que assumiu após o impeachment de Collor, mas foi em seu governo que o país conseguiu controlar o monstro da inflação. A economia também explica em parte a popularidade de Lula no final de mandato. Em 2010, o último ano do governo Lula, o país registrou um crescimento de 7,5% no PIB (apesar de ter sofrido uma retração no ano anterior).

Outro gráfico contido na pesquisa, porém, indica que os brasileiros hoje acreditam que as sementes para o atual cenário econômico ruim foram lançadas ao solo pelo próprio Lula e por sua sucessora.

Ao serem perguntados a quem atribuem a maior responsabilidade pela atual situação econômica do país, 34% citam o governo Lula e 20%, o de Dilma Rousseff. Ou seja, a maioria absoluta dos entrevistados, 54%, põe a culpa nos governos petistas. O governo Temer foi citado como responsável por 14% dos entrevistados e o de Bolsonaro, 5%. Outros 15% atribuíram a situação econômica a causas externas e 12% não souberam responder.

Evidentemente, o governo Bolsonaro ainda está muito no começo para ser responsabilizado pela situação econômica atual, mas o primeiro gráfico sugere que é preciso usar bem a popularidade inicial para tomar as medidas necessárias para deixar uma marca positiva nessa área. O tempo corre.

Sobre o Autor

Diogo Schelp é jornalista com 20 anos de experiência. Foi editor executivo da revista VEJA e redator-chefe da ISTOÉ. Durante 14 anos, dedicou-se principalmente à cobertura e à análise de temas internacionais e de diplomacia. Fez reportagens em quase duas dezenas de países. Entre os assuntos investigados nessas viagens destacam-se o endurecimento do regime de Vladimir Putin, na Rússia, o narcotráfico no México, a violência e a crise econômica na Venezuela, o genocídio em Darfur, no Sudão, o radicalismo islâmico na Tunísia e o conflito árabe-israelense. É coautor dos livros “Correspondente de Guerra” (Editora Contexto, com André Liohn) e “No Teto do Mundo” (Editora Leya, com Rodrigo Raineri).

Sobre o Blog

“O que mantém a humanidade viva?”, perguntava-se o dramaturgo alemão Bertolt Brecht. Essa é a pergunta que motiva esse blog a desembaraçar o noticiário internacional – e o nacional, também, quando for pertinente – e a lançar luz sobre fatos e conexões que não receberam a atenção devida. Esse é um blog que quer surpreender, escrito por alguém que gosta de ser surpreendido.