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Diogo Schelp

Antiglobalistas ganham terreno, mas não vão dominar Parlamento Europeu

Diogo Schelp

22/05/2019 12h35

Nigel Farage

Nigel Farage, líder do Partido Brexit (Foto: Toby Melville/Reuters)

Partidos anti-integração europeia e anti-imigração querem tomar o Parlamento Europeu de assalto nas eleições que começam nesta quinta-feira, 23. Eles fazem parte de um movimento político internacional (o chanceler brasileiro Ernesto Araújo gosta de falar em "aliança") que se opõe ao chamado "globalismo" (que Araújo define como a "globalização que passou a ser pilotada pelo marxismo cultural"). O presidente americano Donald Trump se considera um anti-globalista. O bolsonarismo de maneira geral também se identifica com esse fenômeno político, que tem evidentes traços nacionalistas e é associado normalmente à direita.

No Reino Unido, porém, o Partido do Brexit, fundado exclusivamente para participar das eleições desta semana, reúne não apenas ex-eleitores do Partido Conservador, mas também trabalhistas desiludidos e até comunistas. Sim, há até três candidatos egressos do Partido Comunista Revolucionário que se juntaram ao Partido do Brexit para disputar uma vaga para o Parlamento Europeu.

O Partido do Brexit é uma empreitada de Nigel Farage, ex-líder do Ukip, partido de extrema direita que comandou o voto pela saída dos britânicos da União Europeia (UE) no referendo de 2016. O novo partido de Farage é uma salada ideológica. O que une seus integrantes e eleitores é a obsessão por tirar o Reino Unido da União Europeia a qualquer custo.

Não espanta que o governo britânico esteja tentando demover Trump de levar Farage a tiracolo para o banquete que terá com a rainha Elizabeth II para comemorar os 75 anos da invasão da Normandia — a data marca o início da libertação da Europa, mas não da forma como Farage quer fazer agora.

A rigor, Farage e sua trupe nem deveriam estar batalhando para entrar no Parlamento Europeu. Afinal, os britânicos já estão prestes a sair da UE. Isso deveria ter acontecido em março, mas a premiê Theresa May ainda não conseguiu aprovar no Parlamento britânico o acordo de saída que fez com a UE. Com isso, Bruxelas adiou o prazo do rompimento para outubro deste ano. Na segunda-feira, 20, May apresentou aos parlamentares sua quarta proposta de saída da UE, que inclui a possibilidade de realizar um novo referendo sobre o Brexit.

Afinal, muitos ingleses já estão percebendo que essa coisa de antiglobalismo cobra um preço alto. Nesta quarta-feira, 22, foi anunciada a falência da British Steel, uma siderúrgica que nos últimos anos viu sua produção declinar por causa das incertezas provocadas pelo Brexit. Com isso, 25.000 postos de trabalho estão ameaçados.

Uma pesquisa divulgada na segunda-feira, 20, indica que os agrupamentos eurocéticos (os céticos dos benefícios da integração europeia) vão conseguir aumentar a sua representatividade no Parlamento Europeu, mas não terão a maioria necessária para mudar os rumos do bloco. Na votação de 2014, eles conseguiram 118 das 751 cadeiras disponíveis. Para a próxima legislatura, estima-se que vão eleger 179 eurodeputados eurocéticos. O oxímoro é proposital, pois o movimento antiglobalista está mergulhado em contradições. Mas seus integrantes não parecem preocupados com nenhuma delas, mesmo aquelas que produzem desempregados.

Sobre o Autor

Diogo Schelp é jornalista com 20 anos de experiência. Foi editor executivo da revista VEJA e redator-chefe da ISTOÉ. Durante 14 anos, dedicou-se principalmente à cobertura e à análise de temas internacionais e de diplomacia. Fez reportagens em quase duas dezenas de países. Entre os assuntos investigados nessas viagens destacam-se o endurecimento do regime de Vladimir Putin, na Rússia, o narcotráfico no México, a violência e a crise econômica na Venezuela, o genocídio em Darfur, no Sudão, o radicalismo islâmico na Tunísia e o conflito árabe-israelense. É coautor dos livros “Correspondente de Guerra” (Editora Contexto, com André Liohn) e “No Teto do Mundo” (Editora Leya, com Rodrigo Raineri).

Sobre o Blog

“O que mantém a humanidade viva?”, perguntava-se o dramaturgo alemão Bertolt Brecht. Essa é a pergunta que motiva esse blog a desembaraçar o noticiário internacional – e o nacional, também, quando for pertinente – e a lançar luz sobre fatos e conexões que não receberam a atenção devida. Esse é um blog que quer surpreender, escrito por alguém que gosta de ser surpreendido.