A coerência exige que Moro considere seriamente o pedido de demissão
Em 26 de maio deste ano, manifestantes instalaram, em frente ao Congresso Nacional, um boneco gigante de Sergio Moro, ministro da Justiça e Segurança Pública, vestido como Super-Homem. Ou, no caso, como "Super-Moro". O ex-juiz federal que foi responsável pelos julgamentos da Lava Jato é — ou era, até ontem — a figura pública mais popular do Brasil. A pesquisa de opinião XP/Ipespe divulgada em meados de maio indicava que 59% dos entrevistados tinham uma visão positiva de Moro. O presidente Jair Bolsonaro tinha 49% e Lula, 40%.
Mas Moro não foi eleito para o cargo de ministro e sua popularidade tampouco deve ser critério para que permaneça nele. Bolsonaro o escolheu para ocupar a pasta por "seu passado exemplar no combate à corrupção" e porque emprestava credibilidade às promessas de transparência e seriedade do novo governo. O escândalo das mensagens trocadas com os procuradores da Lava Jato coloca em dúvida todos esses atributos. Ainda que se conclua, nas instâncias competentes, que não há "nada de mais" (como diz Moro) nas conversas vazadas, até que isso aconteça ele estará sob escrutínio constante. A recusa do ministro de responder aos questionamentos dos jornalistas sobre o assunto durante compromisso oficial em Manaus nesta segunda-feira (10) é uma prova disso. Qualquer outro assunto que ele procure abordar como ministro estará envolto na nuvem da suspeita de imparcialidade e suspeição de suas ações pretéritas.
O ministro que era a joia do governo bolsonarista, e que nos últimos meses colecionou uma série de derrotas políticas, agora tornou-se um obstáculo que ameaça desviar a atenção de temas prementes, como a aprovação da reforma da Previdência. A Bolsonaro não interessa, por exemplo, a abertura de uma CPI, como se aventou, abrindo um novo flanco de atritos com o Congresso.
A avaliação da conduta de juízes não é atribuição do Ministério da Justiça. O próprio Poder Judiciário detém as instâncias para isso. Mas um ministro que foi nomeado para combater malfeitos não pode estar sob suspeita sequer de conduta antiética. Em fevereiro, Moro lançou uma campanha interna para promover princípios éticos no Ministério, com o claro e cristalino nome de "Faça a coisa certa. Sempre". Por coerência, já que há a suspeita de que ele nem sempre fez a coisa certa, Moro deveria estar redigindo sua carta de demissão, sem que isso seja entendido como uma admissão de culpa. Por mais que a população o admire por ter ajudado a desmantelar o maior esquema de corrupção da história do país. Por mais popular que ele seja.
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