Acordo UE-Mercosul torna Brexit ainda mais amargo para os britânicos
Boris Johnson, o ex-prefeito de Londres que disputa com Jeremy Hunt o posto de líder do Partido Conservador e, portanto, o cargo de próximo primeiro-ministro britânico, foi um dos principais defensores do Brexit no referendo de 2016. Depois de dois anos de negociações infrutíferas da atual premiê Theresa May por um acordo que permita ao Reino Unido sair da União Europeia sem grandes perdas comerciais, Johnson avisa que pode optar pelo caminho do "Brexit duro", ou seja, o divórcio sem acordo nenhum. É como se um marido ou mulher saísse de casa sem nunca combinar com o cônjuge quem fica com o quê ou como será dividida a guarda dos filhos.
Segundo uma pesquisa de opinião recente, se houvesse um novo referendo sobre se o Reino Unido deve ou não sair da União Europeia, 52% dos britânicos votariam para ficar e 45% para sair. Ou seja, diante do caos do processo de separação, está batendo um arrependimento nos britânicos. E esse arrependimento se torna ainda mais amargo agora que a União Europeia e o Mercosul finalizaram as negociação de um acordo de livre comércio.
A economia britânica nunca vai usufruir dos benefícios comerciais do acordo que abrirá os mercados do bloco sul-americano para as exportações europeias. Quando o acordo UE-Mercosul entrar em vigor, o que só deve acontecer dentro de alguns anos, os britânicos já terão saído do bloco europeu.
Boris Johnson tem dito que a perda dos mercados já desbravados pela União Europeia (e do próprio mercado comum europeu) será compensada pelos acordos bilaterais que o Reino Unido já está costurando individualmente.
De fato, no ano passado já começaram a ser feitos esforços com o Brasil e com o Mercosul para garantir a continuidade das regras comerciais em vigor e até de eliminação de tarifas, o que equivaleria a um acordo do tipo que a União Europeia terá com os países sul-americanos. Seria excelente se isso acontecesse. Negociar um acordo comercial separado pode ter a vantagem de ser menos complexo, por não ser necessário levar em conta os interesses de dezenas de países, como ocorre quando se negocia em bloco. Por outro lado, a força na mesa de negociação é menor.
O embaixador britânico no Brasil, Vijay Rangarajan, comemorou a conclusão das negociações da parte comercial do Acordo de Associação entre Mercosul e União Europeia, pois a vê como uma amostra das "possibilidades e capacidades dos arranjos multilaterais de comércio". Esses arranjos multilaterais, infelizmente, são rechaçados por Donald Trump, presidente do país mais rico do planeta, e por Boris Johnson, que a partir do próximo dia 22 talvez passe a comandar a quinta maior economia do mundo. Menos mal que Johnson, ao contrário de Trump, vê valor no livre comércio — se não graças a acordos multilaterais, ao menos por meio de negociações bilaterais, de país para país.
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