A internacional trumpista ganha mais um aliado
A confirmação da escolha de Boris Johnson como novo primeiro-ministro do Reino Unido adiciona mais um nome à crescente lista de líderes mundiais que integram a direita populista e nacionalista — cujo expoente máximo é o presidente americano Donald Trump. E é curioso que o mais recente integrante da internacional trumpista tenha chegado tardiamente ao poder no Reino Unido, pois foi lá que tudo começou.
O referendo do Brexit, em que os britânicos decidiram pela saída de seu país da União Europeia (UE), em 2016, foi um marco na atual onda de populismo nacionalista e antiglobalista. Ao descartar o direito de fazer parte do mais poderoso e rico bloco econômico do mundo, os britânicos deixaram claro que o ressentimento com a globalização e o multilateralismo não era um fenômeno isolado e passageiro que já havia obtido vitórias eleitorais em outros países de menor expressão.
Johnson foi um dos principais garotos-propaganda da campanha do Brexit, recorrendo à agora já consagrada tática da desinformação (alguns preferem chamar de fake news) para mobilizar o eleitorado. Ele só não conduziu o processo de negociação com a UE porque seus correligionários preferiram passar o bastão para uma conservadora clássica, Theresa May, em vez de apostar na aventura Johnson. Fracassada a tentativa de May de fazer um Brexit negociado, o Partido Conservador cede à aventura e Johnson agora tem a possibilidade de pressionar pelo Brexit duro — uma saída sem acordo da UE, apesar de todas as implicações caóticas que isso pode ter.
Trump bebeu muito da experiência do referendo do Brexit na campanha eleitoral que o levou à presidência alguns meses depois. Ficou claro, no exemplo britânico, o potencial de votos de uma massa de cidadãos que se sentem deixados para trás em um mundo cada vez mais interconectado e cosmopolita. Nos Estados Unidos, Trump falou a essas pessoas e fez delas sua base apaixonada. O discurso é simples e eficiente: encontre um bode expiatório para os problemas dessa parcela da população, jogue na lata do lixo fatos e dados consagrados e antes indiscutíveis e prometa a volta a um passado mítico, onde tudo era perfeito e não havia incertezas. O Brexit fez isso, Trump fez isso.
Brexit e Trump deram ímpeto a experiências políticas similares em outras nações: na Itália, com o vice-premiê Matteo Salvini; na Áustria, com o xenófobo Partido da Liberdade, que este ano acabou sendo dispensado da coalizão que governava o país por causa de um escândalo de corrupção; e no Brasil, com o presidente Jair Bolsonaro. Esse grupo soma-se a líderes que já estavam no poder, mas que são feitos do mesmo barro populista e nacionalista: o primeiro-ministro Viktor Orbán, na Hungria, o premiê Benjamin Netanyahu, em Israel, o presidente Rodrigo Duterte, nas Filipinas (eleito no mesmo mês em que o Brexit foi aprovado), o presidente Milos Zeman, na República Checa, e Jaroslaw Kaczynski, considerado governante de fato da Polônia, apesar de não ocupar nem o cargo de presidente, nem de premiê.
É a globalização do antiglobalismo.
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