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Diogo Schelp

Crianças alemãs ganham R$ 13 bilhões em mesada por ano e gastam em leitura!

Diogo Schelp

06/08/2019 16h37

Mesada

Dinheiro na mão é educacional: em países desenvolvidos, a mesada faz parte da formação das crianças, como essas, nos EUA (Foto: Carissa Rogers/Flickr)

Um estudo recém-divulgado na Alemanha revela que o poder de compra anual das crianças entre 4 e 13 anos no país é de 3 bilhões de euros, o equivalente a mais de 13 bilhões de reais, somando a mesada e o dinheiro que elas recebem de presente de aniversário, Natal ou em outras datas comemorativas. O hábito de dar mesadas é disseminado: 95% dos alemãezinhos recebem um valor fixo regularmente.

No Brasil, um levantamento do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) feito em 2015 entre mães vivendo em capitais estaduais mostrou que apenas 26,3% das crianças ganhavam mesada. A questão não é a renda mais baixa dos brasileiros, pois a importância da mesada não depende do valor que os pais podem dar. Mesmo pouco dinheiro já basta para introduzir as crianças, paulatinamente, no mundo das finanças.

Além disso, o valor médio das mesadas no Brasil é mais alto do que na Alemanha. Lá, as crianças recebem o equivalente a 90 reais por mês. No Brasil, segundo o estudo do SPC (e sem considerar a inflação dos últimos quatro anos, que pode ter levado os pais brasileiros a reajustar o valor), a média era de 126 reais mensais.

Os dados acima sugerem que a questão é, mesmo, cultural. Isso se reflete inclusive na atitude dos pais diante da maneira como os filhos lidam com o dinheiro. Na Alemanha, 65% dos pais não controlam os gastos dos filhos com a mesada. No Brasil, é o inverso: a supervisão materna do uso da mesada ocorre em 64% dos casos. Ou seja, as crianças alemãs são mais livres para usar seu dinheiro como elas quiserem — o que pressupõe fazer más escolhas de consumo e aprender com elas.

O mais surpreendente talvez seja o uso que as crianças alemãs dão para o dinheiro: 53% delas gastam ao menos parte da mesada em publicações, como revistas em quadrinhos e jornais infantis. Na pesquisa brasileira, 36,8% das mesadas eram destinadas ao menos em parte para a compra de livros e revistas. Não parece uma proporção tão baixa, mas ainda está distante do padrão alemão.

Educação financeira e incentivo à compra de material de leitura. Está aí uma ótima combinação para pais que pensam no futuro de seus filhos — e para um país que considera o capital humano a chave para o desenvolvimento.

Sobre o Autor

Diogo Schelp é jornalista com 20 anos de experiência. Foi editor executivo da revista VEJA e redator-chefe da ISTOÉ. Durante 14 anos, dedicou-se principalmente à cobertura e à análise de temas internacionais e de diplomacia. Fez reportagens em quase duas dezenas de países. Entre os assuntos investigados nessas viagens destacam-se o endurecimento do regime de Vladimir Putin, na Rússia, o narcotráfico no México, a violência e a crise econômica na Venezuela, o genocídio em Darfur, no Sudão, o radicalismo islâmico na Tunísia e o conflito árabe-israelense. É coautor dos livros “Correspondente de Guerra” (Editora Contexto, com André Liohn) e “No Teto do Mundo” (Editora Leya, com Rodrigo Raineri).

Sobre o Blog

“O que mantém a humanidade viva?”, perguntava-se o dramaturgo alemão Bertolt Brecht. Essa é a pergunta que motiva esse blog a desembaraçar o noticiário internacional – e o nacional, também, quando for pertinente – e a lançar luz sobre fatos e conexões que não receberam a atenção devida. Esse é um blog que quer surpreender, escrito por alguém que gosta de ser surpreendido.