Ex-ministro da Economia é símbolo trágico do retorno do kirchnerismo
Um dos maiores truísmos eleitorais da Argentina é o de que nenhuma força política vence a presidência do país sem conquistar também o governo da província de Buenos Aires, onde votam 37% dos eleitores nacionais. A acachapante vitória da dupla Alberto Fernández/Cristina Kirchner sobre o atual presidente Mauricio Macri na votação deste domingo (11) — uma prévia em que os argentinos endossam os candidatos e que serve de termômetro para a eleição que realmente vale, em outubro — foi acompanhada de uma conquista ainda maior do kirchnerismo no pleito provincial. Axel Kicillof, candidato do grupo político de Fernández e Cristina, conseguiu quase 50% dos votos, contra meros 32% de María Eugenia Vidal, atual governadora e aliada de Mauricio Macri. Ou seja, se os resultados da prévia nacional, em que Fernández/Kirchner obtiveram 47% dos votos, já servem de prenúncio de que Macri está prestes a fracassar em sua tentativa de reeleição, o desempenho de Kicillof em Buenos Aires é interpretado como uma confirmação inequívoca de que os argentinos já se esqueceram do desastre que foi o governo de Cristina Kirchner e estão dispostos a reviver o passado. Afinal, Kicillof não é ninguém menos que o ex-ministro da Economia da gestão de Cristina. É, portanto, um dos grandes responsáveis pelo caos econômico originado naquele governo e que Macri não conseguiu consertar.
Axel Kicillof tinha 42 anos quando foi nomeado ministro da Economia em 2013 pela então presidente Cristina Kirchner. Doutor em economia pela Universidade de Buenos Aires, aprofundou-se nos estudos da obra de Karl Marx, mas define-se como keynesiano. Ex-alunos seus já o definiram como tendo o coração no marxismo, mas a cabeça no keynesianismo (que a grosso modo defende a intervenção do Estado na economia, dentro das regras do capitalismo). É interessante notar como essa dualidade se reflete em suas declarações e em seus atos.
Egresso do grupo La Cámpora, a ala jovem do kirchnerismo comandada por Máximo Kirchner, filho da ex-presidente, Kicillof teve uma função-chave no governo de Cristina antes mesmo de assumir o ministério: foi ele o arquiteto da expropriação da YPF, a maior empresa de petróleo argentina, em 2012, vinte anos depois de sua privatização no governo Carlos Menem. Tão logo tornou-se ministro, Kicillof deu um calote seletivo (deixou de pagar a taxa de juros) na dívida externa do país, afugentando investimentos externos pelos anos seguintes. O governo conseguiu chegar a um acordo com alguns credores, mas não com os chamados "fundos abutres". Sobrou para Macri resolver a pendenga com esses fundos e reinserir a Argentina no mercado de empréstimos internacionais.
Sob a batuta de Kicillof, a inflação na Argentina disparou, chegando a 25% ao ano, o controle de preços foi estendido para 476 itens de supermercado e a pobreza aumentou em 5,4%. No final do segundo mandato de Cristina Kirchner, as reservas internacionais estavam quase no mesmo nível de doze anos antes — ou seja, dilapidadas. Durante a atual campanha eleitoral, Kicillof criticou o acordo do Mercosul com a União Europeia.
Kicillof, portanto, entregou a Macri uma economia em frangalhos. O novo presidente não soube consertar o problema, é verdade, e acabou repetindo medidas heterodoxas da gestão anterior, como o controle de preços. Mas a provável ascensão de Kicillof a governador de Buenos Aires é um melancólico lembrete do significado do retorno do peronismo kirchnerista ao poder na Argentina: um retrocesso político e econômico.
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