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Diogo Schelp

Por que o enfraquecido Boris Johnson seria o favorito em novas eleições

Diogo Schelp

09/09/2019 14h17

Boris

O primeiro-ministro britânico Boris Johnson em visita à Irlanda nesta segunda-feira, 9 (Phil Noble/Reuters)

Durante sua visita à Irlanda nesta segunda-feira (9), o primeiro-ministro britânico Boris Johnson ouviu um sermão do colega irlandês Leo Varadkar. "A história do Brexit não vai se encerrar se o Reino Unido sair [da União Europeia] no dia 31 de outubro ou mesmo 31 de janeiro — não existe a possibilidade de um rompimento limpo", disse Varadkar. 

A fronteira entre a Irlanda, um país independente e membro da União Europeia (UE), e a Irlanda do Norte, que faz parte do Reino Unido, é um dos nós mais complicados do Brexit. As implicações alfandegárias e humanas da possibilidade de que, da noite para o dia, a única fronteira terrestre entre o Reino Unido e a UE tenha de ser fechada, passando a exigir o controle de fluxo de pessoas e mercadorias, são vistas como desastrosas.

O plano de Boris Johnson de empurrar o país para um divórcio sem negociação com a UE no prazo de 31 de outubro sofreu um duro revés no parlamento. Os deputados aprovaram uma lei, que entrou em vigor nesta segunda-feira, obrigando seu governo a pedir à UE o adiamento do prazo para Brexit, o que daria mais tempo para se obter um acordo.

Johnson reagiu com autoritarismo, promovendo o maior expurgo da história do Partido Conservador, expulsando 21 correligionários que votaram a favor da lei de adiamento. Entre os expulsos, está o neto do ex-premiê conservador Winston Churchill. Na sequência, outros conservadores caíram fora, entre os quais o irmão de Boris Johnson, que além de deputado era ministro.

Também ao final desta segunda-feira, o parlamento entrará em suspensão até meados de outubro, por uma decisão anunciada anteriormente pelo próprio Johnson.

O primeiro-ministro ameaça ignorar a lei de adiamento, o que abriria um precedente perigoso para a democracia britânica, e está tentando, sem sucesso, que o parlamento aprove a convocação de novas eleições gerais.

Existe uma razão clara para essa manobra. Johnson perdeu a maioria no parlamento, o que torna o seu governo ingovernável. Mas, mais do que isso, ele sabe que, apesar da perda de apoio político, ele seria o favorito no caso de novas eleições.

As pesquisas de intenção de voto colocam os conservadores dez pontos percentuais à frente dos trabalhistas, que compõem a segunda maior agremiação política do país. Isso se explica por duas razões: a primeira é que a desconfiança em relação ao radical Jeremy Corbyn, o líder trabalhista, é ainda maior do que a se direciona contra Johnson. A segunda é que os britânicos estão descontentes com o parlamento e anseiam por um líder forte, como também mostram as pesquisas.

Tudo o que Boris Johnson faz é calculado para se vender como este líder.

Sobre o Autor

Diogo Schelp é jornalista com 20 anos de experiência. Foi editor executivo da revista VEJA e redator-chefe da ISTOÉ. Durante 14 anos, dedicou-se principalmente à cobertura e à análise de temas internacionais e de diplomacia. Fez reportagens em quase duas dezenas de países. Entre os assuntos investigados nessas viagens destacam-se o endurecimento do regime de Vladimir Putin, na Rússia, o narcotráfico no México, a violência e a crise econômica na Venezuela, o genocídio em Darfur, no Sudão, o radicalismo islâmico na Tunísia e o conflito árabe-israelense. É coautor dos livros “Correspondente de Guerra” (Editora Contexto, com André Liohn) e “No Teto do Mundo” (Editora Leya, com Rodrigo Raineri).

Sobre o Blog

“O que mantém a humanidade viva?”, perguntava-se o dramaturgo alemão Bertolt Brecht. Essa é a pergunta que motiva esse blog a desembaraçar o noticiário internacional – e o nacional, também, quando for pertinente – e a lançar luz sobre fatos e conexões que não receberam a atenção devida. Esse é um blog que quer surpreender, escrito por alguém que gosta de ser surpreendido.