Se não há nada errado no pedido à Ucrânia, por que Trump tentou ocultá-lo?
Os defensores do presidente americano Donald Trump — e o próprio, claro — dizem que não há nada de mais na conversa telefônica em que ele pede ao colega ucraniano que investigue o pré-candidato à presidência Joe Biden e seu filho, Hunter Biden, por supostos crimes cometidos quando o democrata era vice-presidente dos Estados Unidos, na gestão de Barack Obama.
Na terça-feira (24), para provar seu argumento, Trump autorizou a divulgação de uma versão editada da transcrição de sua conversa com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, em 25 de julho deste ano.
Mas esse lapso de transparência só ocorreu depois que o assunto e o teor da conversa já tinham vindo a público por meio de reportagens sobre uma denúncia feita internamente por um funcionário de inteligência do governo americano, cujo nome ainda não foi revelado.
A íntegra da denúncia foi divulgada nesta quinta-feira (26), depois que os primeiros passos de um processo de impeachment contra Trump foram iniciados na Câmara dos Representantes.
Nela, além do relato de fatos que o denunciante qualifica como "interferência, entre outras coisas, para pressionar um país estrangeiro a investigar um dos principais adversários políticos domésticos do presidente", há também informações sobre as iniciativas da Casa Branca para evitar que o conteúdo da conversa de Trump com Zelensky viesse a público.
Com esse intuito, segundo a denúncia, a transcrição eletrônica da conversa foi removida do sistema de computadores onde esse tipo de conteúdo costuma ser armazenado e direcionada para outro sistema eletrônico, reservado para documentos sensíveis e classificados.
São considerados "sensíveis" documentos cujos dados podem representar riscos, por exemplo, à segurança nacional.
O que a denúncia sugere, porém, é que a transcrição era sensível apenas para os interesses políticos do presidente.
Esses são os dois pontos centrais a serem esclarecidos nas investigações que se iniciarão agora na Câmara dos Representantes: 1) se a suspensão de uma ajuda militar de mais de 300 milhões de dólares para a Ucrânia, dias antes do telefonema entre Trump e Zelensky, foi uma tentativa de pressionar o ucraniano a investigar Biden; 2) se Trump, ciente da gravidade de seu ato, tentou encobrir o teor da conversa.
Se a resposta for sim para as duas questões, ficará evidente que Trump abusou do cargo em proveito eleitoral próprio.
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