Bolsonaro e Fernandez: o início de uma relação 'bate e assopra'?
De Riade, na Arábia Saudita*
Talvez por estar sendo tão bem tratado nos países árabes, quiçá por já ter se deixado influenciar pela maneira mansa dos sauditas falarem ou quem sabe por estar empolgado com o banquete que o príncipe herdeiro Mohammed Bin Salman lhe proporcionaria momentos mais tarde, o fato é que o presidente Jair Bolsonaro chegou à Arábia Saudita, nesta segunda-feira (28), dando declarações mais tranquilas e comedidas do que de costume.
Depois de dizer, ainda no Catar, que não cumprimentaria o argentino Alberto Fernández pela vitória nas eleições presidenciais de domingo (27), Bolsonaro inspirou o ar seco de Riade, a capital saudita, e disse que não quer "fazer juízo de forma precipitada" sobre o futuro ocupante da Casa Rosada.
"Há trinta e poucos dias quando houve uma prévia na Argentina, o que se viu foi saque em banco e compra de dólares. Nós vamos sentir nos próximos dias como o mercado, os investidores, os grandes empresários vão reagir na Argentina. Espero que eu esteja equivocado naquilo que eu penso."
Bolsonaro lembrou que os petistas comemoraram a eleição de Cristina Kirchner como vice na chapa de Fernández, pela relação dela com os governos bolivarianos da era Chávez-Lula, mas minimizou o conflito com o presidente recém-eleito. "A bola está com eles", disse Bolsonaro, completando: "De nossa parte, tudo normal."
Poucas horas antes, ele havia reagido de maneira ríspida a uma foto postada no Twitter em que Fernández, cercado de apoiadores, justamente no dia do segundo turno das eleições argentinas, faz a letra "L" com os dedos. Não, Fernández não trocou o tradicional "V" de vitória pelo "L" de looser (em inglês, "perdedor". Era "L" de "Lula livre", mesmo.
Provocação a Bolsonaro? Evidente que sim. E o brasileiro revidou dizendo que Fernández estava "afrontando o Brasil de graça".
Não é de interesse de nenhum dos dois, e muito menos dos cidadãos brasileiros e argentinos, que Bolsonaro e Fernández continuem se espezinhando. Não se trata apenas do futuro das relações entre os dois países, mas também de ambos com o resto do mundo. E isso inclui o acordo de livre comércio entre o Mercosul e a Europa, negociado com tanto suor ao longo de anos.
Bolsonaro e Fernández têm dado, cada um a seu modo, suas próprias contribuições para colocar em risco a entrada em vigor desse acordo. Com sua política ambiental, brasileiro deu munição para que os protecionistas da Europa torpedeassem o negócio. Já o argentino ameaçou cancelar de vez o trato com os europeus.
Agora, a ameaça vem em dupla, pois o Mercosul não existe se Brasil e Argentina estiverem em desarranjo, com os presidentes ora batendo-se, ora assoprando-se mutuamente.
É hora de fazer como os sauditas e baixar o tom — mesmo que por dentro estejam se remoendo de raiva.
* Viagem a convite do governo da Arábia Saudita.
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