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Diogo Schelp

Prestes a anunciar IPO, petrolífera saudita mostra instalações bombardeadas

Diogo Schelp

02/11/2019 19h40

Aramco

Porta-voz do Ministério da Defesa da Arábia Saudita mostra drones usados em ataques ao país (Foto: Diogo Schelp/UOL)

Um dia antes do possível lançamento da oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês) da petrolífera estatal Aramco, a empresa mais lucrativa do mundo, que deve ocorrer neste domingo (3), o governo saudita levou um grupo de jornalistas estrangeiros, entre os quais a reportagem do UOL, para conhecer as instalações que foram bombardeadas por drones em setembro deste ano.

O esforço de relações públicas tem dois objetivos principais. Primeiro, convencer a comunidade internacional de que o ataque foi feito pelo Irã, e não por seus aliados do Iêmen, a milícia huti, que assumiu a responsabilidade pelo bombardeio.

O Guerra Civil do Iêmen, iniciada em 2015, opõe os hutis às forças do presidente Abdrabbuh Mansour Hadi e à Arábia Saudita, que vem usando sua Força Aérea para bombardear as áreas dominadas pelos rebeldes. 

Aramco

Funcionário mostra estilhaços do ataque contra a planta de processamento de petróleo de Abqaiq, na Arábia Saudita (Foto: Diogo Schelp/UOL)

O segundo objetivo é mostrar aos potenciais interessados no IPO da Aramco que as atividades da empresa estão seguras apesar dos recentes bombardeios e do conflito com o Irã. Afinal, o ataque de setembro, que atingiu duas usinas de processamento de petróleo cru, Khurais e Abqaiq, derrubou pela metade a produção de petróleo saudita.

Durante a visita às instalações, os funcionários da empresa petrolífera faziam questão de repetir que o funcionamento dos dois campos foi retomado em questão de poucos dias, atribuindo isso aos fartos investimentos em infraestrutura realizados nos últimos anos e à rápida resposta da equipe de emergência na contenção do incêndio causado pelos drones.

O ataque às usinas foi realizado com drones-suicidas, ou seja, veículos aéreos não tripulados (VANs) armados com uma bomba que são programados para "cair" sobre um alvo pré-determinado.

Dezoito drones foram lançados contra a usina de Abqaiq — a maior do mundo, que pode processar 5 milhões de barris de petróleo por dia — e sete contra a de Khurais — cuja capacidade é de 1,5 milhão de barris por dia. 

Uma das evidências apresentadas pelo Ministério da Defesa saudita para comprovar a versão de que o ataque foi feito pelo Irã é a de que os drones usados não têm autonomia para viajar da região dominada pelos hutis, no sul do Iêmen, até as usinas, que ficam mais de 1000 quilômetros ao norte, perto do Golfo Pérsico.

O príncipe herdeiro Mohammed bin Salman pretendia anunciar o IPO em outubro, mas os ataques forçaram-no a adiar seus planos. Há, também, uma questão de expectativas frustradas. Bin Salman queria que a Aramco fosse avaliada em 2 trilhões de dólares, mas os especialistas acreditam que ele deveria ficar contente com 1,5 trilhão de dólares.

Inicialmente, a empresa será lista na bolsa saudita, e posteriormente, talvez no ano que vem, no exterior. Bin Salman pretende oferecer até 5% das ações no IPO.

De qualquer forma, se de fato ocorrer, será a maior oferta pública da história.

Aramco

Instalação da planta de processamento de petróleo cru de Khurais, atingida em ataque por drones no último dia 14 de setembro (Foto: Diogo Schelp/UOL)

Sobre o Autor

Diogo Schelp é jornalista com 20 anos de experiência. Foi editor executivo da revista VEJA e redator-chefe da ISTOÉ. Durante 14 anos, dedicou-se principalmente à cobertura e à análise de temas internacionais e de diplomacia. Fez reportagens em quase duas dezenas de países. Entre os assuntos investigados nessas viagens destacam-se o endurecimento do regime de Vladimir Putin, na Rússia, o narcotráfico no México, a violência e a crise econômica na Venezuela, o genocídio em Darfur, no Sudão, o radicalismo islâmico na Tunísia e o conflito árabe-israelense. É coautor dos livros “Correspondente de Guerra” (Editora Contexto, com André Liohn) e “No Teto do Mundo” (Editora Leya, com Rodrigo Raineri).

Sobre o Blog

“O que mantém a humanidade viva?”, perguntava-se o dramaturgo alemão Bertolt Brecht. Essa é a pergunta que motiva esse blog a desembaraçar o noticiário internacional – e o nacional, também, quando for pertinente – e a lançar luz sobre fatos e conexões que não receberam a atenção devida. Esse é um blog que quer surpreender, escrito por alguém que gosta de ser surpreendido.