Bolívia não passa no teste da alternância de poder desde 2003
A simples realização de eleições nunca foi um bom critério para definir se um país é uma democracia ou não. Há outros mais confiáveis, como o grau de liberdade para a contestação das políticas públicas. Há, também, o teste da alternância de poder — ou seja, se de tempos em tempos um grupo político é substituído por outro, sem sobressaltos.
A Bolívia não passa nesse teste. A última vez que um presidente eleito completou o cargo e transferiu-o para outro político eleito foi em 1997. Eleito em 1993, Gonzalo Sánchez de Lozada entregou o poder para Hugo Banzer, que já havia ocupado o posto como ditador na década de 70.
Banzer renunciou em agosto de 2001 por motivos de saúde. Seu vice, Jorge Quiroga, assumiu pelos onze meses seguintes.
Eleito para um novo mandato, Gonzalo Sánchez de Lozada assumiu em 2002 e renunciou um ano depois em meio a uma onda de protestos e greves pela nacionalização da exploração de gás natural. Assumiu o seu vice, Carlos Mesa (o adversário de Evo Morales nas eleições deste ano).
Mesa renunciou em 2005, também por causa da questão do gás natural, e em seu lugar ficou Eduardo Rodríguez, que era presidente da Corte Suprema de Justiça.
Por trás dos protestos que derrubaram Sánchez e Mesa estava o líder cocaleiro Evo Morales.
Em janeiro de 2006, Rodríguez transmitiu o cargo para Evo Morales, que havia vencido a eleição presidencial no ano anterior.
A presidência de Evo Morales, apesar de inúmeros problemas e de acusações de relações com o narcotráfico, foi a de maior estabilidade política para os padrões bolivianos. Tinha tudo para terminar com tranquilidade, com uma transferência pacífica de poder.
Mas Morales apegou-se ao cargo e passou por cima da Constituição e do resultado de um referendo popular para poder se candidatar para um quarto mandato consecutivo.
Quando ficou claro que podia ser derrotado no segundo turno para Carlos Mesa, apelou para a fraude eleitoral, como comprovou a investigação feita pela OEA (Organização dos Estados Americanos).
A oposição reagiu, aproveitando-se da violência das ruas, e Evo acabou encurralado.
Não é possível comemorar as circunstâncias da saída de Evo Morales, assim como não há justificativa para defendê-lo.
Mais uma vez, a Bolívia é reprovada no teste democrático.
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