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Diogo Schelp

Embaixada da Venezuela nos EUA também foi ocupada por aliados de Guaidó

Diogo Schelp

13/11/2019 11h52

Guiado

Embaixada da Venezuela em Washington, durante ocupação por aliados de Juan Guaidó (Imagem: Vídeo/Reprodução)

A embaixada da Venezuela em Brasília não foi a primeira a ser invadida por apoiadores de Juan Guaidó — o deputado venezuelano que foi declarado presidente interino da Venezuela e cuja legitimidade foi reconhecida por mais de 50 países, inclusive o Brasil. Algo semelhante aconteceu também com a embaixada venezuelana em Washington.

Depois que o presidente americano Donald Trump reconheceu Guaidó como presidente interino da Venezuela, o presidente de fato do país, Nicolás Maduro, mandou fechar a embaixada nos Estados Unidos e permitiu que ela fosse ocupada por um movimento de esquerda americano chamado Code Pink.

Em maio, apoiadores de Guaidó invadiram a embaixada e a tomaram das mãos do Code Pink, com ajuda das autoridades americanas, que cortaram a eletricidade e a água do prédio.

Dois meses antes, Carlos Vecchio, o embaixador de Guaidó para os Estados Unidos, já havia anunciado a tomada de três imóveis pertencentes ao corpo diplomático da Venezuela no país: o consulado em Nova York e duas propriedades militares em Washington.

Há embaixadores nomeados por Guaidó em praticamente todos os países que reconheceram o seu direito à presidência, mas apenas uma minoria conseguiu apresentar suas credenciais. A embaixadora de Guaidó para o Reino Unido, por exemplo, até hoje não foi recebida pela rainha Elizabeth II, como é de praxe.

Os presidentes dos Estados Unidos, do Equador e do Brasil estão entre os que optaram por oficializar as delegações de Guaidó, recebendo as credenciais de seus embaixadores.

Há uma grande diferença entre esses três casos, porém: os Estados Unidos estão com as relações com a Venezuela rompidas desde janeiro e o Equador expulsou a embaixadora de Nicolás Maduro de Quito no mês passado, o que prontamente levou Caracas a fazer o mesmo com a encarregada de negócios equatoriana na Venezuela.

Já o Brasil segue tendo relações com a Venezuela — por enquanto. Rodolfo Braga é o chefe da representação diplomática brasileira em Caracas.

Para o governo brasileiro, não deveria interessar a expulsão do encarregado de negócios da Venezuela no Brasil, Freddy Meregote, da embaixada em Brasília, para substituí-lo pela representante de Guaidó, María Teresa Belandria Expósito, pelo simples fato de que ela não está inserida na estrutura burocrática com o efetivo controle das relações internacionais da Venezuela.

Exemplo prático: se um estrangeiro entrar na embaixada em Brasília e tentar obter um visto para a Venezuela com a equipe de Belandria, não vai conseguir.

Esse é o ponto central: quem detém o controle efetivo do território e das instituições venezuelanas, inclusive sua chancelaria, não é Guaidó, mas o ditador Nicolás Maduro.

A ocupação de embaixadas não muda esse fato.

Sobre o Autor

Diogo Schelp é jornalista com 20 anos de experiência. Foi editor executivo da revista VEJA e redator-chefe da ISTOÉ. Durante 14 anos, dedicou-se principalmente à cobertura e à análise de temas internacionais e de diplomacia. Fez reportagens em quase duas dezenas de países. Entre os assuntos investigados nessas viagens destacam-se o endurecimento do regime de Vladimir Putin, na Rússia, o narcotráfico no México, a violência e a crise econômica na Venezuela, o genocídio em Darfur, no Sudão, o radicalismo islâmico na Tunísia e o conflito árabe-israelense. É coautor dos livros “Correspondente de Guerra” (Editora Contexto, com André Liohn) e “No Teto do Mundo” (Editora Leya, com Rodrigo Raineri).

Sobre o Blog

“O que mantém a humanidade viva?”, perguntava-se o dramaturgo alemão Bertolt Brecht. Essa é a pergunta que motiva esse blog a desembaraçar o noticiário internacional – e o nacional, também, quando for pertinente – e a lançar luz sobre fatos e conexões que não receberam a atenção devida. Esse é um blog que quer surpreender, escrito por alguém que gosta de ser surpreendido.