Bolsonaro superestima seu 'canal aberto' com Trump
"Se for o caso, ligo pro Trump, eu tenho um canal aberto com ele", disse o presidente Jair Bolsonaro na manhã desta segunda-feira (2) ao saber que o colega americano havia acabado de anunciar no Twitter que vai retomar as tarifas de importação de aço e alumínio do Brasil e da Argentina.
A própria maneira como foi feito o anúncio americano, porém, indica que o tal 'canal aberto' não é tão aberto assim.
O governo brasileiro foi pego de surpresa pela decisão de Trump, que vinculou a medida ao fato de as moedas do Brasil e da Argentina estarem passando por um processo de desvalorização em relação ao dólar — "o que não é bom para os nossos fazendeiros", afirmou o americano.
Em um contexto normal de relações bilaterais, uma decisão como a de Trump não seria anunciada sem uma conversa prévia, nos bastidores, entre diplomatas e técnicos de comércio exterior dos dois países.
O presidente americano, como se sabe, não adota o procedimento padrão das negociações bilaterais. Em sua guerra tarifária com a China, por exemplo, anúncios como o que ele fez hoje a respeito do aço e do alumínio brasileiros são recorrentes e servem ao propósito de aumentar sua força de negociação.
A questão é que o governo brasileiro, ao contrário do chinês, é um aliado declarado do americano. Se essa história de 'canal aberto' com Trump fosse para valer, o americano não precisaria resolver questões comerciais com o Brasil com um porrete na mão.
Se tivesse conversado com o brasileiro, Trump poderia ter recebido a explicação de que o Brasil não está promovendo uma política intencional de desvalorização do real diante do dólar para favorecer as exportações. Se bem que não dá para culpar o americano por ter chegado a essa conclusão, já que, há menos de uma semana, o ministro da Economia Paulo Guedes disse nos Estados Unidos que não está preocupado com as flutuações do dólar.
Em março de 2018, Trump elevou as tarifas de importação de aço e alumínio, mas isentou temporariamente da cobrança alguns países, entre os quais o Brasil. Agora, com a desculpa da desvalorização cambial, Trump reverteu a decisão de um ano e meio atrás.
O episódio mostra que Bolsonaro confia mais na aliança com Trump do que vice-versa.
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