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Diogo Schelp

Um estadista na presidência: retrospectiva idealizada da política em 2019

Diogo Schelp

20/12/2019 11h33

Faixa presidencial

A faixa presidencial (Foto com corte: Sergio Moraes/Reuters)

2019 está chegando ao fim e aproxima-se o momento de fazer um balanço do primeiro ano de mandato do presidente eleito pelos brasileiros em 2018.

O antecessor, de curto mandato, começou a arrumar a casa no campo da economia e os resultados começaram a ser colhidos, lentamente. O novo mandatário deu início a algumas reformas urgentes para conter o déficit público, tomando todos os cuidados para não favorecer interesses corporativistas e para não penalizar a base da pirâmide social. Nada de impostos sobre transações bancárias ou sobre a renda dos pobres. Nem se pensou nisso.

O ano terminou com otimismo nos mercados, juros em baixa histórica e com geração de emprego em alta. Tudo isso mais como resultado de fatores conjunturais do que propriamente de medidas concretas adotadas ao longo do ano (cujos efeitos concretos ainda levarão um tempo para aparecer).

O mais importante de tudo é que, como verdadeiro liberal, o presidente nada fez na política que pudesse atrapalhar o bom momento, permitindo que as perspectivas para 2020 sejam ainda melhores.

Não alimentou o clima de instabilidade política lutando contra moinhos de vento vermelhos cujas pás são formadas por uma foice e um martelo cruzados. Não tentou favorecer parentes em cargos públicos.

E manteve-se fiel ao próprio discurso de guerreiro da ética, abstendo-se de tentar enfraquecer instituições do Estado que se viram obrigadas a investigar possíveis atos pouco republicanos de um de seus filhos. O mandatário, como verdadeiro estadista, soube separar as coisas e não tomou as investigações para o lado pessoal.

Nas relações exteriores, evitou confrontos verbais com líderes de outros países e mostrou superioridade ao adotar um discurso conciliador, sem abrir mão de defender os interesses nacionais.

Ciente de que havia exageros e falta de pragmatismo nas políticas ambientais, determinou ajustes nessa área sem, no entanto, mostrar-se conivente com infratores.

Ele tampouco perdeu tempo revisando regras consagradas, baseadas em fatos científicos, como a de que radares de controle de velocidade ajudam a reduzir as mortes no trânsito — apesar de, por princípio, ser contra o que chama de Estado-babá, que controla cada passo dos cidadãos. Mas fatos são fatos, e o presidente confiou neles e nas estatísticas apresentadas pelos estudiosos para não mexer em política pública que estava ganhando.

Nem tudo sai conforme se espera na montagem de uma equipe, e o novo governo tampouco escapou de ter alguns integrantes enrolados com a Justiça. Foram prontamente dispensados pelo mandatário, que desde o começo cobrou resultados de seus ministros — e deu uma dura naqueles que tentaram o usar o cargo para polemizar, para reinventar a roda ou para apagar tudo o que foi feito de bom nos governos anteriores apenas porque foi feito nos governos anteriores.

Comprometido com o sistema democrático que o colocou no poder, o presidente afastou com veemência as tentações autoritárias de alguns de seus aliados. Evocações nostálgicas de leis ditatoriais foram duramente criticadas pelo ocupante do Palácio do Planalto.

A relação com o Congresso e com o próprio partido nem sempre foi tranquila, é claro, mas ele soube manter uma base de apoio consistente graças a negociações em torno de compromissos e ideias convergentes. Seu objetivo era, desde sempre, a aprovação de políticas urgentes para o país, não a ampliação do próprio poder.

Em 2020, ainda há muito por fazer, mas o novo presidente lançou as bases para obter um excelente segundo ano de mandato graças ao compromisso adotado com a estabilidade política e com o império da lei.

Se o Brasil tivesse um presidente zeloso do cargo e verdadeiramente liberal, esta seria a retrospectiva da política em 2019. Seria. Não sendo, o que será do Brasil?

Sobre o Autor

Diogo Schelp é jornalista com 20 anos de experiência. Foi editor executivo da revista VEJA e redator-chefe da ISTOÉ. Durante 14 anos, dedicou-se principalmente à cobertura e à análise de temas internacionais e de diplomacia. Fez reportagens em quase duas dezenas de países. Entre os assuntos investigados nessas viagens destacam-se o endurecimento do regime de Vladimir Putin, na Rússia, o narcotráfico no México, a violência e a crise econômica na Venezuela, o genocídio em Darfur, no Sudão, o radicalismo islâmico na Tunísia e o conflito árabe-israelense. É coautor dos livros “Correspondente de Guerra” (Editora Contexto, com André Liohn) e “No Teto do Mundo” (Editora Leya, com Rodrigo Raineri).

Sobre o Blog

“O que mantém a humanidade viva?”, perguntava-se o dramaturgo alemão Bertolt Brecht. Essa é a pergunta que motiva esse blog a desembaraçar o noticiário internacional – e o nacional, também, quando for pertinente – e a lançar luz sobre fatos e conexões que não receberam a atenção devida. Esse é um blog que quer surpreender, escrito por alguém que gosta de ser surpreendido.