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Diogo Schelp

Maduro e Bolsonaro fazem disputa de acusações infundadas

Diogo Schelp

24/12/2019 15h51

Maduro e Bolsonaro

O ditador venezuelano Nicolás Maduro e o presidente brasileiro Jair Bolsonaro (Fotos: Manaure Quintero/Reuters e Rodolfo Buhrer/Foto Arena/Estadão Conteúdo)

O governo venezuelano está chamando de "Natal Sangrento" os assaltos a quartéis em Luepa, no estado de Bolívar, na fronteira com o Brasil, de onde foram levados 122 fuzis e outros armamentos no domingo (22). O regime de Nicolás Maduro também tratou de insinuar que o episódio faz parte de um complô envolvendo países do Grupo de Lima — do qual o Brasil faz parte e que discute medidas para pressionar a ditadura chavista —para atacar bases militares em vários pontos da Venezuela e iniciar um conflito interno.

Não demorou para Nicolás Maduro começar a acusar o governo brasileiro de estar apoiando os tais atos hostis, que ele classificou como "terroristas".

O Brasil, como não podia deixar de ser, negou qualquer envolvimento no episódio. De fato, a acusação é um descalabro. O governo venezuelano não tem nenhuma prova disso. Tudo o que o governo chavista tem a dizer é que parte das armas foram levadas para o Brasil. Para o propósito de propaganda interna, nada disso importa.

Governos de traço populista precisam de tempos em tempos inventar uma conspiração internacional para ofuscar suas próprias debilidades e para instigar o medo entre a população.

De modo equivalente, o presidente Jair Bolsonaro lançou, em outubro, a suspeita de que o governo venezuelano teve um papel ativo no desastre ambiental causado pelo vazamento de óleo no litoral nordestino.

"Poderia ser uma ação criminosa para prejudicar esse leilão?", questionou Bolsonaro, referindo ao leilão da cessão onerosa do petróleo e lembrando que, segundo a Petrobras e o Ibama, o produto que poluiu as praias brasileiras é de origem venezuelana.

Mas isso não basta para afirmar ou mesmo suspeitar que a Venezuela tenha enviado um navio especialmente para sabotar o meio ambiente brasileiro.

Se o petróleo for mesmo dos campos de exploração venezuelanos — não é possível ter certeza, pois o laudo técnico nunca veio a público —, uma embarcação de qualquer nacionalidade que transportava o cru comprado naquele país e que passou pelo Oceânico Atlântico poderia, em tese, ter sofrido um acidente e provocado um vazamento.

Terrorismo, sabotagem com petróleo. Em termos de acusações infundadas, Maduro e Bolsonaro se equiparam.

Sobre o Autor

Diogo Schelp é jornalista com 20 anos de experiência. Foi editor executivo da revista VEJA e redator-chefe da ISTOÉ. Durante 14 anos, dedicou-se principalmente à cobertura e à análise de temas internacionais e de diplomacia. Fez reportagens em quase duas dezenas de países. Entre os assuntos investigados nessas viagens destacam-se o endurecimento do regime de Vladimir Putin, na Rússia, o narcotráfico no México, a violência e a crise econômica na Venezuela, o genocídio em Darfur, no Sudão, o radicalismo islâmico na Tunísia e o conflito árabe-israelense. É coautor dos livros “Correspondente de Guerra” (Editora Contexto, com André Liohn) e “No Teto do Mundo” (Editora Leya, com Rodrigo Raineri).

Sobre o Blog

“O que mantém a humanidade viva?”, perguntava-se o dramaturgo alemão Bertolt Brecht. Essa é a pergunta que motiva esse blog a desembaraçar o noticiário internacional – e o nacional, também, quando for pertinente – e a lançar luz sobre fatos e conexões que não receberam a atenção devida. Esse é um blog que quer surpreender, escrito por alguém que gosta de ser surpreendido.