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Diogo Schelp

Julgamento de impeachment e prévia democrata: uma boa semana para Trump

Diogo Schelp

03/02/2020 12h49

Iowa

Apoiadores do pré-candidato Andrew Yang preparam-se para a primeira primária democrata em Iowa, nos Estados Unidos (Foto: Brenna Norman/Reuters)

Esta semana reserva dois momentos cruciais do ano na política americana. Na noite desta segunda-feira (3), é dado o pontapé inicial das primárias democratas para a presidência, em Iowa. E, também  nesta segunda-feira, retoma-se o julgamento do impeachment do presidente Donald Trump no Senado, cujo desfecho será conhecido na quarta-feira (5).

Ou seja, esta semana se saberá se Trump será absolvido pelos senadores e também começará a se desenhar com mais clareza a disputa que, nos próximos meses, definirá quem (caso Trump continue no cargo) irá enfrentá-lo nas eleições de novembro.

Os dois eventos estão interligados. O alegado crime cometido por Trump foi ter usado o cargo para pressionar um governo estrangeiro (da Ucrânia) a investigar o ex-vice-presidente Joe Biden — um dos principais pré-candidatos democratas e favorito, junto com Bernie Sanders, a vencer a primária em Iowa. O processo de impeachment foi uma aposta arriscada do Partido Democrata, que domina a Câmara dos Representantes, pois o julgamento final se dá na outra casa, o Senado, que tem a maioria das cadeiras ocupadas por integrantes do Partido Republicano, o mesmo do presidente.

Tudo indica que os senadores republicanos vão salvar a pele de Trump no julgamento, adotando a seguinte retórica: ele de fato reteve ajuda militar para pressionar o governo da Ucrânia a investigar se o filho de Biden obteve vantagens comerciais naquele país quando seu pai era vice-presidente na gestão de Barack Obama; mas isso não é o bastante para tirar o presidente do cargo.

Com a provável absolvição, Trump ganhará dois trunfos para a sua reeleição. O primeiro é que ele poderá exibir inocência e repisar a acusação, que ele faz desde o início de seu governo, de que é vítima de uma perseguição desproporcional por parte dos democratas. O segundo é aproveitar a propaganda grátis assegurada pelo processo de impeachment para repetir à exaustão a suspeita de que Biden é um político corrupto que usou o cargo para fazer negócios com estrangeiros por meio do filho.

Formato antigo

É aí que entra a importância das primárias em Iowa. Nesse estado rural, a escolha se dá em encontros em que os apoiadores dos pré-candidatos discutem entre si para definir o nome no qual os delegados daquela seção devem votar. Esse formato de primária, conhecido como caucus, costuma concentrar os militantes mais engajados do Partido Democrata, que geralmente estão mais à esquerda no espectro político. Essa forma de escolha, portanto, tende a favorecer o pré-candidato Bernie Sanders, que para os padrões da política americana é considerado "socialista".

As pesquisas em Iowa indicam a vitória de Biden ou de Sanders, que aparecem empatados na média dos principais levantamentos de intenção de voto. Em nível nacional, Biden está menos de 4 pontos percentuais à frente de Sanders. Em terceiro está Elizabeth Warren, também identificada com a ala mais à esquerda do partido, com 8 pontos de desvantagem em relação a Sanders.

Ainda que oficialmente a campanha presidencial só comece depois das convenções que confirmam os candidatos dos dois principais partidos do país, em julho, a disputa para valer já se inicia esta semana. E, com os democratas sendo tragados por propostas cada vez mais à esquerda e com a possibilidade de deixar a ameaça do impeachment para trás, Trump começará a corrida pela reeleição com força redobrada.

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Sobre o Autor

Diogo Schelp é jornalista com 20 anos de experiência. Foi editor executivo da revista VEJA e redator-chefe da ISTOÉ. Durante 14 anos, dedicou-se principalmente à cobertura e à análise de temas internacionais e de diplomacia. Fez reportagens em quase duas dezenas de países. Entre os assuntos investigados nessas viagens destacam-se o endurecimento do regime de Vladimir Putin, na Rússia, o narcotráfico no México, a violência e a crise econômica na Venezuela, o genocídio em Darfur, no Sudão, o radicalismo islâmico na Tunísia e o conflito árabe-israelense. É coautor dos livros “Correspondente de Guerra” (Editora Contexto, com André Liohn) e “No Teto do Mundo” (Editora Leya, com Rodrigo Raineri).

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“O que mantém a humanidade viva?”, perguntava-se o dramaturgo alemão Bertolt Brecht. Essa é a pergunta que motiva esse blog a desembaraçar o noticiário internacional – e o nacional, também, quando for pertinente – e a lançar luz sobre fatos e conexões que não receberam a atenção devida. Esse é um blog que quer surpreender, escrito por alguém que gosta de ser surpreendido.