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Diogo Schelp

Por que Biden e Sanders têm poucas chances de derrotar Trump nas eleições

Diogo Schelp

03/03/2020 11h47

Sanders e Biden

Bernie Sanders e Joe Biden em debate para as primárias democratas (Foto: Mike Blake/Reuters)

O senador Bernie Sanders e o ex-vice-presidente Joe Biden lideram a disputa pela indicação de quem irá representar o Partido Democrata nas eleições presidenciais dos Estados Unidos, que ocorrem em novembro deste ano. Entre os argumentos para angariar votos nas primárias para Sanders ou Biden, os militantes de cada um tentam encontrar argumentos para provar que o seu pré-candidato é o que tem mais condições de derrotar o presidente Donald Trump, que buscará a reeleição pelo Partido Republicano.

A realidade, porém, é que as chances de Trump se reeleger são maiores do que a de que venha a ser derrotado nas urnas por qualquer um dos dois favoritos dos democratas.

Há mais de uma maneira de identificar essa tendência.

A primeira diz respeito a um fato indiscutível: historicamente, o presidente incumbente (aquele que está no cargo) tem a vantagem em uma disputa pela reeleição. Ao longo da história americana, o partido que estava no poder manteve a posição na eleição seguinte em 22 ocasiões. Essa regra só não se confirmou em dez tentativas de manter a presidência. Ou seja, ponto a favor para Trump.

A segunda consideração é que o desempenho de um presidente incumbente nas urnas costuma estar atrelado a dois indicadores: a satisfação da população com a economia e a aprovação do governante que busca a reeleição. Quanto ao primeiro tópico, as pesquisas indicam que os americanos estão tão otimistas com sua condição econômica quanto estavam quando Trump assumiu o governo, em janeiro de 2017: ou seja, a percepção geral é positiva.

Além disso, a taxa de desemprego nos Estados Unidos vem caindo de maneira consistente desde a metade do primeiro mandato do presidente Barack Obama, em 2011. Não importa muito, para as eleições deste ano, que a tendência de queda começou no governo de um democrata. O impacto eleitoral mais significativo é que a taxa continua caindo sob Trump. Mais um ponto para ele.

Quanto à aprovação de Trump, a conclusão é mais difusa. O republicano tem um índice de aprovação popular muito baixo para um governo que desfruta de um contexto econômico tão favorável, conforme apontado acima. Segundo uma média dos resultados obtidos por diversos institutos de pesquisas feita pelo site RealClearPolitics, o índice de desaprovação de Trump está em torno de 52%, o que é realmente ruim.

No entanto, a tendência recente é de melhora no índice. Trump chegou a ter 58% de avaliação negativa. E, segundo uma nova pesquisa do instituto Gallup divulgada na semana passada, 48% agora desaprovam a gestão Trump, enquanto 49% a consideram positiva. Ou seja, pela primeira vez desde que assumiu o cargo, segundo o Gallup, Trump tem mais avaliações positivas do que negativas. Sua popularidade está aumentando. Se essa tendência se mantiver até novembro, mais um ponto para ele.

A terceira maneira de avaliar as chances de Biden ou de Sanders de derrotar Trump consiste em analisar as projeções de intenção de voto em ambos em uma eventual disputa cara a cara com Trump.

Aqui, os números parecem indicar vantagem para os democratas. Segundo a média de pesquisas feita pelo RealClearPolitics, se as eleições fossem hoje entre Sanders e Trump, o primeiro receberia 49,4% dos votos, contra 44,5% do segundo. Em um enfrentamento entre Biden e Trump, o ex-vice-presidente teria 49,8% dos votos e o atual presidente, 44,4%.

O problema é que essas pesquisas não levam em conta dois fatores essenciais.

O primeiro é o fato de que o voto é facultativo nos Estados Unidos. As pesquisas tentam refletir fielmente a distribuição demográfica da população, mas não a demografia de quem de fato vai às urnas. No contexto americano, quanto mais jovem o eleitor, menor a chance de ele comparecer no dia das eleições. Ocorre que o eleitorado mais velho tende a votar mais no candidato do Partido Republicano do que o eleitorado mais jovem, que vota mais na opção democrata.

O desafio de qualquer candidato democrata, portanto, é empolgar os jovens a sair de casa para votar.  Biden, um candidato mais moderado que Sanders, tem menos apelo entre os jovens. Sanders, por sua vez, devido a suas propostas radicais, atrai mais eleitores jovens, mas espanta os chamados swinger voters — eleitores que ora votam em republicanos, ora em democratas.

De acordo com um estudo recente feito por pesquisadores da Universidade da Califórnia, Sanders precisaria aumentar em 11 pontos percentuais o comparecimento de eleitores democratas com menos de 35 anos para compensar os votos volúveis que migrariam para Trump. Trata-se de uma meta muito difícil de alcançar.

O segundo fator que as pesquisas de intenção de voto em nível nacional não levam em conta é a distribuição estado por estado. Nos Estados Unidos, a eleição presidencial é indireta: cada estado contribui com um determinado número de delegados no Colégio Eleitoral, que escolhe o presidente.

Ou seja, um candidato pode vencer na contagem absoluta de votos, mas perder a eleição no Colégio Eleitoral. Foi exatamente o que aconteceu em 2016, quando a democrata Hillary Clinton recebeu quase 3 milhões de votos a mais que Donald Trump, mas perdeu no Colégio Eleitoral por uma diferença de 77 delegados.

Qualquer que seja o candidato democrata, terá que remar muito contra a correnteza para recuperar a vantagem em estados decisivos, que foram conquistados por Trump em 2016.

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Sobre o Autor

Diogo Schelp é jornalista com 20 anos de experiência. Foi editor executivo da revista VEJA e redator-chefe da ISTOÉ. Durante 14 anos, dedicou-se principalmente à cobertura e à análise de temas internacionais e de diplomacia. Fez reportagens em quase duas dezenas de países. Entre os assuntos investigados nessas viagens destacam-se o endurecimento do regime de Vladimir Putin, na Rússia, o narcotráfico no México, a violência e a crise econômica na Venezuela, o genocídio em Darfur, no Sudão, o radicalismo islâmico na Tunísia e o conflito árabe-israelense. É coautor dos livros “Correspondente de Guerra” (Editora Contexto, com André Liohn) e “No Teto do Mundo” (Editora Leya, com Rodrigo Raineri).

Sobre o Blog

“O que mantém a humanidade viva?”, perguntava-se o dramaturgo alemão Bertolt Brecht. Essa é a pergunta que motiva esse blog a desembaraçar o noticiário internacional – e o nacional, também, quando for pertinente – e a lançar luz sobre fatos e conexões que não receberam a atenção devida. Esse é um blog que quer surpreender, escrito por alguém que gosta de ser surpreendido.