Cristina K., a Dilma Rousseff argentina, quer voltar à presidência este ano
A senadora Cristina Fernández de Kirchner foi presidente da Argentina em dois mandatos, que duraram de 2007 a 2015. Ela foi o poste que o seu marido Néstor Kirchner escolheu eleger no próprio lugar, pois ele ainda estava em seu primeiro mandato e podia buscar a reeleição. (Apenas relembrando: "poste" foi a expressão que o presidente Lula usou para se referir a Dilma Rousseff, quando gabou-se de que seria capaz de eleger até um objeto inanimado para sucedê-lo no cargo. De fato, na primeira campanha de Dilma, muitos eleitores achavam que ela era mulher de Lula.) A decisão de Néstor Kirchner de colocar a primeira-dama para concorrer em seu lugar foi uma estratégia de perpetuação de um projeto de poder: acredita-se que ele pretendia voltar ao cargo na eleição seguinte. Mas o destino ceifou-lhe a vida três anos depois, vítima de um ataque cardíaco, e coube a Cristina dar continuidade ao kirchnerismo, reelegendo-se em 2011.
Foi um desastre, assim como foi um desastre a presidência de sua colega Dilma Rousseff, que foi sua contemporânea no cargo no Brasil (2011-2016) e com quem compartilhava ideias em comum em economia (pesada em subsídios) e em política externa (alinhamento com o bolivarianismo do venezuelano Hugo Chávez). A economia da Argentina enfrentou recessão em três dos oito ano do governo de Cristina Kirchner, a inflação chegou a 25% ao ano e o índice de pobreza aumentou em 5,4% no período.
Em 2015, os argentinos elegeram o moderado Mauricio Macri para a presidência. Tinha tudo para dar certo, mas não deu. As medidas para combater o déficit público, herança do kirchnerismo, aliadas a uma alta na taxa de juros americana, que drenou investidores estrangeiros, e a uma seca que derrubou a produção agrícola da Argentina, fortemente dependente da exportação de commodities, agravaram ainda mais a situação. Em 2018, o peso perdeu metade do seu valor.
Cristina Kirchner, apesar de enfrentar diversas acusações de corrupção, ensaia agora a volta ao poder. As eleições presidenciais acontecem em outubro deste ano. As pesquisas indicam que ela tem força para ir para o segundo turno com Mauricio Macri. Se isso acontecer, ele receberia 45,5% dos votos e ela teria 44,9%. Os indecisos representaram 9,6% das respostas. A diferença pequena entre os dois, de menos de 1 ponto percentual, é assustadora.
O exemplo argentino serve de alerta para o Brasil. Se o projeto atual de governo falhar — o que, pelo que se tem visto nos últimos três meses, já está acontecendo — há uma grande probabilidade de o PT voltar a ter relevância eleitoral. A memória do eleitor é curta.
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