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Diogo Schelp

Prefeito de NY que barrou Jair Bolsonaro já fez isso antes

Diogo Schelp

16/04/2019 15h58

Bill de Blasio

Bill de Blasio, prefeito de Nova York (Foto: Mark Lennihan/AP)

Bill de Blasio, prefeito de Nova York, nos Estados Unidos, conseguiu, mais uma vez, causar um fuzuê em torno de um fato que em nada vai melhorar a vida dos cidadãos da cidade. Depois que o político do Partido Democrata fez críticas ao presidente Jair Bolsonaro, chamando-o de perigoso, racista, homofóbico e destruidor da Amazônia, o Museu Americano de História Natural de Nova York cedeu à sua pressão e recusou-se a sediar um jantar de gala da Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos que teria o brasileiro como homenageado.

Qualquer pessoa tem o direito de achar que Bolsonaro é perigoso, inclusive por outros motivos. Mas é difícil encontrar algum que tenha a ver com a cidade de Nova York. A verdade é que Bill de Blasio é um populista de esquerda (ou pelo menos tenta sê-lo) com planos quixotescos de alçar vôos políticos nacionais e que, para isso, gasta tempo com picuinhas inúteis para chamar a atenção de eleitores democratas de outras cidades e estados. Uma das maneiras de fazer isso é melar eventos que sirvam de palanque para líderes e ideólogos de direita.

Em outubro do ano passado, por exemplo, o prefeito pediu à Universidade de Nova York que adiasse uma palestra do inglês Milo Yiannopoulos, um agitador da direita conservadora, marcada para o dia de Halloween. As participações de Yiannopoulos em debates universitários costumam atrair protestos conturbados de estudantes progressistas. A alegação da prefeitura para pedir o "adiamento" — um eufemismo para "cancelamento" — era de que, por ser Halloween, a polícia não teria condições de garantir a segurança do evento. Organizações de defesa da liberdade de expressão criticaram o pedido da prefeitura, dizendo que a preocupação com segurança se tratava de um franco exagero que feria o livre debate de ideias. Afinal, Yiannopoulos faria o seu discurso a uma classe pequena, de apenas catorze alunos. Ficou parecendo que De Blasio tem é medo de fantasmas. Ou então que ideias de direita é coisa de bruxo, que enfeitiça as pessoas e as convence a fazer o mal.

O fato é que, assim como no episódio de Bolsonaro, a pressão censora do prefeito deu certo. A universidade cancelou a palestra de Milo Yiannopoulos.

Sobre o Autor

Diogo Schelp é jornalista com 20 anos de experiência. Foi editor executivo da revista VEJA e redator-chefe da ISTOÉ. Durante 14 anos, dedicou-se principalmente à cobertura e à análise de temas internacionais e de diplomacia. Fez reportagens em quase duas dezenas de países. Entre os assuntos investigados nessas viagens destacam-se o endurecimento do regime de Vladimir Putin, na Rússia, o narcotráfico no México, a violência e a crise econômica na Venezuela, o genocídio em Darfur, no Sudão, o radicalismo islâmico na Tunísia e o conflito árabe-israelense. É coautor dos livros “Correspondente de Guerra” (Editora Contexto, com André Liohn) e “No Teto do Mundo” (Editora Leya, com Rodrigo Raineri).

Sobre o Blog

“O que mantém a humanidade viva?”, perguntava-se o dramaturgo alemão Bertolt Brecht. Essa é a pergunta que motiva esse blog a desembaraçar o noticiário internacional – e o nacional, também, quando for pertinente – e a lançar luz sobre fatos e conexões que não receberam a atenção devida. Esse é um blog que quer surpreender, escrito por alguém que gosta de ser surpreendido.