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Diogo Schelp

Nenhum país tem tantos presidentes envolvidos com a Odebrecht quanto o Peru

Diogo Schelp

17/04/2019 12h57

Presidentes

Ollanta Humala, PPK, García e Toledo (Imagens: Xinhua/Luis Camacho; Facebook; Guadalupe Pardo/Reuters; Reprodução)

Acusado de ter recebido propina da Odebrecht, o ex-presidente peruano Alan García matou-se com um tiro na cabeça quando a polícia chegou à sua casa para prendê-lo nesta quarta-feira, 17, em Lima. García foi presidente entre 2006 e 2011. Ele já havia exercido o cargo entre 1985 e 1990, quando fez um governo marcado por autoritarismo e violações de direitos humanos. Segundo investigações da Lava Jato no Peru, uma palestra que ele deu no Brasil em 2012 foi uma desculpa para a Odebrecht pagar a ele 100 mil dólares em propina para defender os interesses da construtora. Em nenhum outro país foram emitidas tantas ordens de prisão contra ex-presidentes por causa da Operação Lava Jato quanto no Peru — nem no Brasil, onde Lula está na cadeia e, recentemente, Michel Temer passou quatro dias detido. Aqui está a lista dos ex-governantes peruanos que já foram ou deveriam estar presos:

Alejandro Toledo (2001-2006)

Em fevereiro de 2017, o presidente que imprimiu um forte crescimento econômico ao Peru estava no exterior quando um juiz pediu sua prisão preventiva por 18 meses. Ele é acusado de ter recebido 20 milhões de dólares de propina da Camargo Corrêa e da Odebrecht e de ter usado o dinheiro para comprar imóveis em nome de sua sogra. Toledo está foragido desde então, e vive exilado nos Estados Unidos. No mês passado, ele foi detido por algumas horas na Califórnia por dirigir embriagado.

Ollanta Humala (2011-2016)

Foi preso em julho de 2017 e solto no ano seguinte. O seu julgamento deve acontecer este ano. Os promotores o acusam de ter recebido doação ilegal de campanha da Odebrecht, da OAS e do governo venezuelano.

Alan García (1985-1990 e 2006-2011)

Em novembro de ano passado, no curso de investigações de seu suposto envolvimento com a Odebrecht, a Justiça ordenou que García fosse impedido de sair do país. Ele procurou asilo na embaixada do Uruguai, mas o pedido foi negado. O mandado de prisão que seria cumprido hoje contra ele era temporário, com duração de 10 dias.

Pedro Pablo Kuczynski (2016-2018)

PPK, como é conhecido, ficou apenas 601 dias na presidência. Renunciou em março de 2018 depois que o Congresso do país abriu um processo de impeachment contra ele por "incapacidade moral". Ele é acusado de favorecer a construtora Odebrecht na construção da Estrada do Pacífico e de uma hidrelétrica durante o governo Toledo, de quem foi ministro. PPK foi preso temporariamente na semana passada, no dia 10 de abril, e permanece na cadeia.

Vale lembrar que há outro ex-presidente peruano preso, Alberto Fujimori, por corrupção e crimes de sangue cometidos em seu governo. Ele foi solto em dezembro de 2017 graças a um indulto concedido por PPK. O indulto foi anulado em outubro do ano passado. Internado por problemas de saúde, voltou à cadeia em janeiro deste ano.

O suicídio de Alan García não revela nem se ele era culpado, nem se era inocente dos crimes pelos quais era acusado. O gesto desesperado, porém, é um indicador do quanto a Justiça peruana tem sido implacável com os ex-mandatários do país.

Sobre o Autor

Diogo Schelp é jornalista com 20 anos de experiência. Foi editor executivo da revista VEJA e redator-chefe da ISTOÉ. Durante 14 anos, dedicou-se principalmente à cobertura e à análise de temas internacionais e de diplomacia. Fez reportagens em quase duas dezenas de países. Entre os assuntos investigados nessas viagens destacam-se o endurecimento do regime de Vladimir Putin, na Rússia, o narcotráfico no México, a violência e a crise econômica na Venezuela, o genocídio em Darfur, no Sudão, o radicalismo islâmico na Tunísia e o conflito árabe-israelense. É coautor dos livros “Correspondente de Guerra” (Editora Contexto, com André Liohn) e “No Teto do Mundo” (Editora Leya, com Rodrigo Raineri).

Sobre o Blog

“O que mantém a humanidade viva?”, perguntava-se o dramaturgo alemão Bertolt Brecht. Essa é a pergunta que motiva esse blog a desembaraçar o noticiário internacional – e o nacional, também, quando for pertinente – e a lançar luz sobre fatos e conexões que não receberam a atenção devida. Esse é um blog que quer surpreender, escrito por alguém que gosta de ser surpreendido.