O que o escândalo na Áustria representa para a direita populista mundial
Atribui-se a Heinz-Christian Strache, que renunciou ao cargo de vice-chanceler da Áustria no sábado, 18, o mérito de ter renovado o Partido da Liberdade da Áustria (FPÖ, na sigla em alemão), prometendo um novo jeito de fazer política, sem a participação de "aventureiros, aproveitadores e soldados da fortuna". O discurso assemelha-se ao de tantos outros líderes da nova direita populista que assumiram o poder na Europa, na Ásia e nas Américas. Quando tomou posse, o americano Donald Trump disse que estava pronto para combater a elite de Washington e devolver o poder ao povo. Jair Bolsonaro, por sua vez, avisou que pretendia "restaurar e reerguer nossa pátria, libertando-a, definitivamente, do jugo da corrupção".
O FPÖ, partido criado por um ex-integrante da SS, organização paramilitar nazista, ao final da II Guerra Mundial, obteve o terceiro maior número de cadeiras no parlamento austríaco nas eleições de 2017, o que lhe permitiu, sob a liderança de Strache, formar uma coalizão para governar junto com o vencedor do pleito, o Partido do Povo Austríaco (ÖVP, na sigla em alemão), de centro-direita. O FPÖ tornava-se, assim, parte da onda nacionalista que colocou no poder partidos com uma pauta populista e xenófoba em alguns países da Europa, como a Hungria, a Itália e a Polônia.
A retórica anticorrupção, nacionalista, contra a integração europeia e de repúdio à elite política repete-se na campanha para as eleições que ocorrem esta semana, entre os dias 23 e 26, para o Parlamento Europeu. Partidos afinados com o FPÖ — da França, da Alemanha, do Reino Unido e de outros países — devem conquistar um número significativo de cadeiras, possivelmente com poder para empastelar votações relacionadas à integração regional e à imigração.
O escândalo que derrubou Strache, além de provocar o esfacelamento da coalizão FPÖ/ÖVP e obrigar o chanceler Sebastian Kurz a convocar eleições antecipadas, abala a imagem de renovadores da política que a direita populista europeia tenta vender. Afinal, Strache renunciou depois da divulgação de um vídeo, gravado em 2017, em Ibiza, em que ele oferece contratos públicos em troca de dinheiro para campanha e cobertura favorável na imprensa a uma mulher que diz ser sobrinha de um oligarca russo interessada em comprar um jornal austríaco.
Strache saiu do governo dizendo que seu comportamento no vídeo foi um "erro", mas tratou de atribuir a armadilha em que caiu a uma conspiração envolvendo um humorista da TV alemã e um israelense com vínculos com o Partido Social Democrata da Áustria (SPÖ, na sigla em alemão).
A estratégia tem se tornado recorrente. Quando flagrados em atividades típicas da "velha política", os arautos da direita imaculada escudam-se com teorias conspiratórias.
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