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Diogo Schelp

Representante de Guaidó na Inglaterra ainda não foi recebida pela rainha

Diogo Schelp

04/06/2019 12h39

Vanessa Neumann

Vanessa Neumann, representante de Juan Guaidó no Reino Unido (Foto: Arquivo Pessoal)

A venezuelana Vanessa Neumann é mais conhecida no Reino Unido por ter namorado Mick Jagger em 1999. Mas isso foi há 20 anos e, hoje, é uma afronta reduzir a biografia de Vanessa Neumann a esse fato do passado. Dona de uma consultoria política com sede em Nova York, ela é autora de um livro sobre as redes globais de comércio ilícito lançado há poucos meses no Brasil ("Lucros de Sangue", Editora Matrix). Ph.D em filosofia política pela Universidade Columbia, ela também é pesquisadora da Universidade Yale e já foi consultora da OCDE.

Vanessa também é uma crítica prolífica do regime de Nicolás Maduro e, este ano, foi nomeada por Juan Guaidó como sua representante diplomática no Reino Unido — país que, assim como muitos outros, incluindo o Brasil, o reconheceram como presidente interino de direito da Venezuela.

Apresentei o perfil de Vanessa Neumann rapidamente porque ela enfrenta, no Reino Unido, algo parecido com o que se passou com María Teresa Belandria, que foi nomeada por Guaidó embaixadora no Brasil. María Teresa apresentou, nesta terça-feira, 4, suas credenciais ao presidente Jair Bolsonaro, em cerimônia protocolar da qual participaram também outros diplomatas estrangeiros recém-nomeados para representar seus países no Brasil.

Uma reportagem da Folha de S.Paulo revela, no entanto, que assessores militares consideravam um erro Bolsonaro receber as credenciais de Belandria, sob o risco de "provocar" o governo de Nicolás Maduro.

Mesmo para os países — são cerca de 50 — que reconheceram a legitimidade de Juan Guaidó, a existência de duas estruturas diplomáticas paralelas, a de Guaidó e a de Maduro, cria situações complicadas.

É o que demonstra a situação de Vanessa Neumann. Ela não tem acesso à embaixada venezuelana em Londres, que ainda está nas mãos do governo de fato de seu país. Vanessa é reconhecida pelo governo britânico como legítima representante da Venezuela no país, mas não foi convidada a apresentar suas credenciais à rainha Elizabeth II, como ocorre com todos os embaixadores estrangeiros tão logo se instalam em Londres.

Ao receber as credenciais de Belandria, Bolsonaro fez um gesto estritamente simbólico. Espera-se do governo brasileiro um apoio mais contundente à oposição venezuelana. O Estado brasileiro, durante o governo do PT, foi usado para apoiar, fortalecer e até ajudar a enriquecer os ocupantes do poder na Venezuela. Quando o tecido social e econômico do país vizinho começou a desmanchar, o Brasil passou a ser destino de refugiados venezuelanos. A crise humanitária cruzou a fronteira para dentro do nosso território.

Do ponto de vista prático, porém, o recebimento das credenciais de Belandria não faz sentido, segundo explica o diplomata Paulo Roberto de Almeida, ex-presidente do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (Ipri). "Guaidó não tem o controle efetivo das relações internacionais de seu país, apesar de ser reconhecido como governante legítimo por dezenas de países", diz Almeida.

Por esse motivo, Vanessa Neumann ainda não foi levada de carruagem, como é a tradição britânica, para apresentar suas credenciais à rainha.

Sobre o Autor

Diogo Schelp é jornalista com 20 anos de experiência. Foi editor executivo da revista VEJA e redator-chefe da ISTOÉ. Durante 14 anos, dedicou-se principalmente à cobertura e à análise de temas internacionais e de diplomacia. Fez reportagens em quase duas dezenas de países. Entre os assuntos investigados nessas viagens destacam-se o endurecimento do regime de Vladimir Putin, na Rússia, o narcotráfico no México, a violência e a crise econômica na Venezuela, o genocídio em Darfur, no Sudão, o radicalismo islâmico na Tunísia e o conflito árabe-israelense. É coautor dos livros “Correspondente de Guerra” (Editora Contexto, com André Liohn) e “No Teto do Mundo” (Editora Leya, com Rodrigo Raineri).

Sobre o Blog

“O que mantém a humanidade viva?”, perguntava-se o dramaturgo alemão Bertolt Brecht. Essa é a pergunta que motiva esse blog a desembaraçar o noticiário internacional – e o nacional, também, quando for pertinente – e a lançar luz sobre fatos e conexões que não receberam a atenção devida. Esse é um blog que quer surpreender, escrito por alguém que gosta de ser surpreendido.