Jornalista que publicou vazamentos critica a Globo, igualzinho Bolsonaro
No Brasil, vive-se cobrando imparcialidade dos jornalistas, mas a verdade é que a imparcialidade deixa os brasileiros confusos. Há uma necessidade geral de colocar os profissionais em caixinhas: este defende tal lado, aquele é a favor do outro lado. Quando alguém defende valores e princípios, em vez de pessoas ou partidos, acaba sendo criticado por todos ou tachado de "isentão". Mas é assim que o bom jornalismo, na minha opinião, deve ser: comprometido com valores e princípios, não com pessoas ou partidos. O contrário disso é ativismo.
Existem muitos jornalistas ativistas. Apesar de essa não ser a melhor conduta para a profissão, ela não anula o fato de que a liberdade de imprensa vale também para eles. Em outras palavras, um jornalista ativista deve ter sua liberdade de expressão assegurada tanto quanto qualquer outro.
Glenn Greenwald, que publicou em seu site The Intercept as conversas vazadas entre Sergio Moro e os procuradores da Lava Jato, é um jornalista ativista. Seu posicionamento sempre foi simpático ao PT. Se houver dúvidas disso, basta assistir à entrevista que ele fez três anos atrás com o ex-presidente Lula ou ler seus comentários no Twitter. Ainda assim, é preciso defender seu direito de publicar as mensagens de Moro. Se Greenwald apenas recebeu o material e não encomendou o hackeamento do aplicativo Telegram, então ele está exercendo o seu direito como jornalista, diria até o dever, de analisar, contextualizar e divulgar as mensagens.
O conteúdo das conversas, se confirmado, é de inegável interesse público, com diversas implicações legais possíveis. Politicamente, é uma bomba. Fui um dos primeiros a defender que, até por coerência, o correto seria o ministro Sergio Moro colocar seu cargo à disposição até esclarecer o caso.
É curioso, porém, que, em sua entrevista com Lula, Greenwald tenha criticado a "parcialidade da imprensa" brasileira. Uma das perguntas que ele fez a Lula é praticamente um manifesto: "Quero discutir o papel da mídia brasileira incitando os protestos e pressionando a saída da Dilma. Como jornalista — não sou brasileiro, mas moro no Brasil há muito tempo — estou chocado com a mídia daqui. Organizações Globo, Veja e Estadão estão tão envolvidos no movimento contra o governo, defendendo os partidos da oposição. Eles fingem ter imparcialidade, mas na realidade agem como a principal ferramenta de propaganda. O controle das organizações da mídia, por poucas famílias muito ricas aqui no Brasil, é um perigo para a democracia?" Claro que Lula respondeu que sim.
Boa parte das denúncias feitas pela imprensa no período político mencionado por Greenwald na pergunta acima foi feita com base em vazamentos de informação. A prerrogativa de liberdade de imprensa utilizada pelos jornalistas para expor os malfeitos do governo petista, por meio desses vazamentos, é a mesma que Greenwald agora usa para escancarar o comportamento pretérito de um ministro do governo Bolsonaro.
Em comentários recentes no Twitter, Greenwald mais uma vez apontou o dedo para os grandes grupos de comunicação. Em entrevista à Agência Pública cujo link ele retuitou, por exemplo, disse que "a Globo e a Lava Jato são parceiras e sócias". Em outro post, motivado aparentemente pelo fato de o Jornal Nacional ter procurado ouvir o outro lado da história, ele afirma que Moro não tem outros defensores além da Globo.
Mas a Globo não era aquela que, segundo o próprio presidente, vivia procurando pelo em ovo no atual governo? Vejamos o que Jair Bolsonaro escreveu no Twitter recentemente:
Em um momento em que está sendo acusado de parcialidade na divulgação das mensagens e em que sofre ataques de maneira vil nas redes sociais, Greenwald resvala no ativismo ao apontar o dedo para a cobertura jornalística que outros veículos estão fazendo do fato que ele começou a divulgar. Greenwald não é dono da narrativa da crise desencadeada pelas mensagens de Moro, apenas deu início a ela.
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