Bolsonaro embaixador é isca de que Trump gosta: família e bajulação
A intenção de designar o filho Eduardo para chefiar a embaixada do Brasil nos Estados Unidos é uma manobra nada republicana (mais uma) do presidente Jair Bolsonaro e já foi classificada por juristas como uma violação da moralidade pública. Além disso, Eduardo Bolsonaro, presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos Deputados, já demonstrou não compreender princípios básicos da diplomacia ao afirmar que os brasileiros que vivem ilegalmente nos Estados Unidos são uma vergonha para o país. O ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, chegou a aventar que o anúncio de Jair Bolsonaro pode não passar de um "balão de ensaio". A indicação pode não se concretizar.
Para além do fato de que o presidente estaria passando por cima da ética no serviço público para favorecer a carreira do filho (o passo seguinte seria sua nomeação como ministro das Relações Exteriores), é possível — apenas possível — que um embaixador Bolsonaro obtenha dividendos práticos para o Brasil na relação com os Estados Unidos. Isso não é uma defesa da indicação de Eduardo para o cargo, apenas uma análise do raciocínio apresentado pelo presidente brasileiro. Para isso, partimos de um dado concreto: esse é um governo que se move segundo o princípio de que os fins justificam os meios.
Jair Bolsonaro alegou, entre os argumentos para a nomeação, que seu filho Bolsonaro é amigo dos filhos do presidente americano Donald Trump. Trata-se de uma justificativa risível para qualquer protagonista sério da política internacional, mas faz sentido na lógica trumpiana.
Trump entende e valoriza os negócios em família. Ele próprio é criticado nos Estados Unidos por ter cometido nepotismo ao nomear a filha Ivanka Trump e o genro Jared Kushner como conselheiros da Casa Branca. O cérebro sob o topete loiro interpreta a notícia de que o presidente brasileiro quer colocar o próprio filho na embaixada em Washington como uma deferência e uma prova de que o alinhamento entre os dois países é para valer.
Rubens Ricúpero, ex-embaixador brasileiro em Washington, fez a excelente ressalva de que isso provoca um desequilíbrio nas relações entre os dois países. Esse é um risco para o Brasil. Contudo, ainda será preciso esperar para ver se a lógica da simetria diplomática faz muita diferença na relação com o governo Trump, que funciona em outra frequência.
Trump também entende e valoriza a bajulação. Enquanto grandes líderes costumam ver esse tipo de postura com desconfiança, Trump se entrega totalmente a ela. Ele odeia quem discorda dele e ama quem diz amém. E Eduardo Bolsonaro é um replicador contumaz de ideias trumpianas. Ele fez isso ao criticar os imigrantes ilegais nos Estados Unidos e também ao defender a abertura de embaixadas em Jerusalém.
Se Eduardo Bolsonaro for confirmado como embaixador em Washington, um primeiro teste será avançar no pleito para que o Brasil seja aceito na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Trump já prometeu rever o veto americano à adesão brasileira à organização, mas ainda não a cumpriu. Integrar a OCDE, um clube de países que comprovadamente adotam boas práticas econômicas e comerciais, daria credibilidade internacional e acesso a expertise para muitas das reformas de que o Brasil precisa para aumentar a produtividade e se desenvolver.
A questão é: não seria possível atingir os mesmos objetivos sem precisar recorrer ao nepotismo e sem, mais uma vez, violar a máxima do Barão do Rio Branco de que a diplomacia deve servir ao Brasil, não a partidos?
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