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Diogo Schelp

Manifestantes em Hong Kong venceram batalha. Por que continuam a guerra?

Diogo Schelp

21/07/2019 14h33

Hong Kong

Manifestantes em Hong Kong jogam pedras na polícia no domingo (21) (Foto: Edgar Su/Reuters)

Centenas de milhares de manifestantes tomaram as ruas de Hong Kong neste domingo (21), em um dos maiores protestos desde que os moradores do enclave chinês se revoltaram contra medidas autoritárias da chefe do Executivo local, Carrie Lam, no início de junho. A exemplo do que ocorreu nas últimas semanas, a passeata, que começou pacífica, descambou para a violência, com a polícia lançando bombas de efeito moral e muitos manifestantes revidando com pedras.

Hong Kong é uma ex-colônia britânica que foi devolvida à China em 1997, com a promessa de que as liberdades civis e uma certa autonomia política seriam mantidas até 2047. A ditadura do Partido Comunista já deixou claro que não aceita esperar tanto e vem espremendo o sistema quase democrático de Hong Kong há anos. Os protestos iniciados no mês passado foram motivados pela tentativa de Lam de aprovar uma lei autorizando a extradição de moradores de Hong Kong para a China continental. Como já houve casos de um empresário e de um editor críticos a Pequim que foram sequestrados pelo regime chinês, é natural que os cidadãos de Hong Kong concluíssem que a lei serviria para reprimir opositores no arquipélago.

A questão é que Lam cedeu às pressões dos manifestantes ainda no mês passado ao anunciar a suspensão da tramitação da lei de extradição. Os protestos, porém, continuaram. Exige-se, agora, a renúncia de Lam, que é leal ao governo chinês, entre outras medidas que assegurem a autonomia do território e a punição aos excessos policiais. Os integrantes do movimento pró-democracia sentiram-se fortalecidos com sua pequena vitória e querem aproveitar o embalo para conseguir mais.

Trata-se de uma jogada arriscada, pois dificilmente o Partido Comunista chinês vai aceitar que sejam feitas mais concessões. O governo de Hong Kong está usando as cenas de violência para provar que são vândalos e anunciou a descoberta de uma "fábrica de explosivos" ligada ao movimento. A mídia estatal chinesa vem alertando nos últimos dias que uma resposta ao "caos" em Hong Kong está sendo planejada em Pequim. Teme-se que, em algum momento, o Exército Popular de Libertação da China seja convocado para resolver o impasse, trazendo à memória a tragédia que foi o Massacre da Praça da Paz Celestial, ocorrido há 30 anos em Pequim.

Empresários e organizações do setor comercial de Hong Kong, um importante centro financeiro da Ásia, apoiaram os protestos contra a lei de extradição, mas estão se distanciando dos movimentos nas ruas das últimas semanas. Eles querem voltar aos negócios e acreditam que não se pode vencer todas as batalhas — principalmente quando o oponente é a ditadura chinesa.

Sobre o Autor

Diogo Schelp é jornalista com 20 anos de experiência. Foi editor executivo da revista VEJA e redator-chefe da ISTOÉ. Durante 14 anos, dedicou-se principalmente à cobertura e à análise de temas internacionais e de diplomacia. Fez reportagens em quase duas dezenas de países. Entre os assuntos investigados nessas viagens destacam-se o endurecimento do regime de Vladimir Putin, na Rússia, o narcotráfico no México, a violência e a crise econômica na Venezuela, o genocídio em Darfur, no Sudão, o radicalismo islâmico na Tunísia e o conflito árabe-israelense. É coautor dos livros “Correspondente de Guerra” (Editora Contexto, com André Liohn) e “No Teto do Mundo” (Editora Leya, com Rodrigo Raineri).

Sobre o Blog

“O que mantém a humanidade viva?”, perguntava-se o dramaturgo alemão Bertolt Brecht. Essa é a pergunta que motiva esse blog a desembaraçar o noticiário internacional – e o nacional, também, quando for pertinente – e a lançar luz sobre fatos e conexões que não receberam a atenção devida. Esse é um blog que quer surpreender, escrito por alguém que gosta de ser surpreendido.