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Diogo Schelp

Depoimento de Mueller pode reavivar planos de impeachment de Trump?

Diogo Schelp

24/07/2019 11h53

Mueller

O ex-procurador especial Robert Mueller em depoimento à Câmara dos Representantes do EUA, na quarta-feira, 24 (Foto: Leah Millis/Reuters)

O ex-procurador especial Robert Mueller, que durante dois anos comandou as investigações sobre a interferência russa na campanha presidencial de 2016, nos Estados Unidos, iniciou nesta quarta-feira (24) seu depoimento a uma comissão da Câmara dos Representantes para esclarecer pontos do seu relatório final, divulgado em abril deste ano. Uma parcela dos deputados democratas espera arrancar dele alguma novidade que dê vida a um pedido de impeachment do presidente Donald Trump, seja por conluio com os russos durante a campanha, seja por obstrução de justiça. Mas há pouca margem para esse tipo de esperança.

Mueller desmentiu Trump logo no começo do seu depoimento, ao afirmar que não é verdade que seu relatório inocenta o presidente dos fatos ali comprovados. O que há de mais forte no relatório são as provas de que a equipe de campanha de Trump em 2016 estava empenhada em colaborar com os agentes estrangeiros e a receber ajuda deles, além de indícios de que o presidente tomou medidas, durante as investigações, que podem ser interpretadas como obstrução de justiça. O que não há no relatório é uma prova de que houve um acordo formal de conluio entre os russos e a campanha de Trump.

Apesar do desmentido, é pouco provável que o depoimento de Mueller acrescente informações capazes de levar os parlamentares a iniciar um processo de impeachment do presidente. A razão é mais política do que técnica. A pouco mais de um ano de novas eleições presidenciais, um processo de impeachment seria uma aposta arriscada. Se Trump sobreviver à tentativa de tirá-lo do cargo, sairá fortalecido para a campanha de reeleição. Além disso, o julgamento de um presidente no Congresso pode representar um desgaste para os parlamentares de oposição, que também estarão concentrados em se reeleger para seus mandatos legislativos.

Trump provavelmente está a salvo. E, por mais que Mueller tenha dito que não, ele vai continuar posando de inocente.

 

Sobre o Autor

Diogo Schelp é jornalista com 20 anos de experiência. Foi editor executivo da revista VEJA e redator-chefe da ISTOÉ. Durante 14 anos, dedicou-se principalmente à cobertura e à análise de temas internacionais e de diplomacia. Fez reportagens em quase duas dezenas de países. Entre os assuntos investigados nessas viagens destacam-se o endurecimento do regime de Vladimir Putin, na Rússia, o narcotráfico no México, a violência e a crise econômica na Venezuela, o genocídio em Darfur, no Sudão, o radicalismo islâmico na Tunísia e o conflito árabe-israelense. É coautor dos livros “Correspondente de Guerra” (Editora Contexto, com André Liohn) e “No Teto do Mundo” (Editora Leya, com Rodrigo Raineri).

Sobre o Blog

“O que mantém a humanidade viva?”, perguntava-se o dramaturgo alemão Bertolt Brecht. Essa é a pergunta que motiva esse blog a desembaraçar o noticiário internacional – e o nacional, também, quando for pertinente – e a lançar luz sobre fatos e conexões que não receberam a atenção devida. Esse é um blog que quer surpreender, escrito por alguém que gosta de ser surpreendido.