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Diogo Schelp

Laudo da UFS sugere que barris estão ligados a causa do vazamento de óleo

Diogo Schelp

18/10/2019 18h14

O material dos barris que encalharam no litoral sergipano contém indícios de que eles estavam no mesmo evento que causou o desastre ecológico nas praias do Nordeste — ainda que o seu conteúdo original possa não ser o mesmo das manchas de petróleo. Essa é a principal conclusão da análise feita por pesquisadores do Laboratório de Petróleo e Energia da Biomassa da UFS (Universidade Federal de Sergipe).

No último sábado (12), este blog publicou a informação de que, segundo uma fonte do governo federal, a análise feita pela Universidade Federal de Sergipe havia concluído que o óleo que estava dentro de barris descobertos na Praia de Formosa, no litoral do estado, é o mesmo das manchas de petróleo cru de origem desconhecida que começaram a atingir as praias do Nordeste no início de setembro.

A conclusão diferia daquela apontada por análise feita pela Marinha. Nos dias que se seguiram, surgiram dúvidas a respeito do resultado da comparação feita pela UFS, intensificada por uma nota divulgada pela universidade em que as conclusões da análise eram colocadas em termos muito vagos.

As informações a seguir esclarecem algumas das questões técnicas do laudo da UFS, que jamais veio a público, e explicam o que elas podem acrescentar às investigações sobre a origem do vazamento.

O nome técnico da análise feita pela UFS é "Avaliação do perfil de biomarcadores saturados, esteranos e terpanos, empregando técnicas de GC/SIM-MS e GC/MRM-MS". Esse método consiste em buscar classes de compostos que estão relacionados ao período de formação dos óleos analisados. 

Na nota da UFS, afirma-se que as amostras encontradas nos barris e nas manchas do vazamento têm uma "mesma fonte molecular". As moléculas que se buscou comparar incluíam, entre outras, os esteranos C27, C28 e C29 e terpanos pentacíclicos. A comparação de algumas dessas classes indicam que os óleos podem ter a mesma origem. 

Isso significa que o óleo que estava sendo transportado dentro dos barris era igual ao que foi encontrado nas manchas que estão poluindo o litoral nordestino? Não necessariamente. As amostras tinham diferenças físico-químicas. Para ser mais específico, os óleos eram diferentes em densidade e viscosidade, características que dificilmente poderiam ter sido causadas por exposições diferentes à água, à temperatura e ao sol.

O óleo encontrado dentro dos barris era petróleo cru, assim como o das manchas?

O laudo da UFS não é categórico quanto a isso. A composição química de alguns petróleos médios e leves pode ser confundida com a de alguns derivados de petróleo — como é o caso do bunker oil, óleo residual do refino de gasolina ou diesel, muitas vezes usado como combustível barato de navios. Ou seja, os barris encontrados no litoral de Sergipe poderiam conter, hipoteticamente, um derivado de petróleo que, mesmo em uma análise minuciosa, seria confundido com petróleo cru.

Qual, então, é a conexão entre os barris e o vazamento de petróleo?

O laudo da UFS trabalha com indícios. E aponta que foi encontrado um número maior de indícios de associação entre as amostras que estavam dentro dos barris e o petróleo das manchas do que de desassociação. Ou seja, há mais indícios de que os óleos estão, sim, relacionados.

A principal conclusão da análise feita pela UFS é que esses indícios sustentam a hipótese de que os barris podem ter estado no mesmo evento que causou o vazamento do óleo.

Em outras palavras, os barris podem não ser a causa em si das manchas que estão poluindo o litoral nordestino, mas há uma grande probabilidade de que caíram ou foram lançados ao mar no mesmo acontecimento (naufrágio? rompimento? transferência desastrada de produtos entre navios?) que provocou o vazamento de petróleo.

Os barris continuam sendo, portanto, uma peça importante para descobrir a origem do desastre ambiental.

Barril encontrado pela Marinha, intacto, a 7,5 quilômetros do litoral de Natal (RN), na quarta-feira, 16 (Foto: Marinha/Divulgação)

Sobre o Autor

Diogo Schelp é jornalista com 20 anos de experiência. Foi editor executivo da revista VEJA e redator-chefe da ISTOÉ. Durante 14 anos, dedicou-se principalmente à cobertura e à análise de temas internacionais e de diplomacia. Fez reportagens em quase duas dezenas de países. Entre os assuntos investigados nessas viagens destacam-se o endurecimento do regime de Vladimir Putin, na Rússia, o narcotráfico no México, a violência e a crise econômica na Venezuela, o genocídio em Darfur, no Sudão, o radicalismo islâmico na Tunísia e o conflito árabe-israelense. É coautor dos livros “Correspondente de Guerra” (Editora Contexto, com André Liohn) e “No Teto do Mundo” (Editora Leya, com Rodrigo Raineri).

Sobre o Blog

“O que mantém a humanidade viva?”, perguntava-se o dramaturgo alemão Bertolt Brecht. Essa é a pergunta que motiva esse blog a desembaraçar o noticiário internacional – e o nacional, também, quando for pertinente – e a lançar luz sobre fatos e conexões que não receberam a atenção devida. Esse é um blog que quer surpreender, escrito por alguém que gosta de ser surpreendido.