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Diogo Schelp

Visão extrativista de Bolsonaro para o Brasil destoa do espírito do fórum

Diogo Schelp

30/10/2019 09h16

Bolsonaro

O presidente Jair Bolsonaro discursa no fórum FII, em Riade (Foto: Hamad I Mohammed/Reuters)

De Riade*

Em seu discurso no fórum realizado na manhã desta quarta-feira (30), em Riade, na Arábia Saudita, o presidente Jair Bolsonaro assumiu como objetivo mostrar aos investidores ali reunidos por que o Brasil é merecedor de receber dinheiro externo.

As oportunidades que o país apresenta, na visão de Bolsonaro, restringem-se quase inteiramente a atividades extrativistas e agrárias. À parte as referências à vocação do Brasil para produzir comida e para o turismo, ele focou seu discurso nas riquezas minerais, convidando os presentes a buscar parcerias para explorar nióbio, terras raras, grafite e petróleo.

A tônica da fala de Bolsonaro destoou do espírito do fórum. Minutos antes, em um painel sobre o futuro da energia, os debatedores estavam falando da necessidade de usar os recursos dos combustíveis fósseis para investir pesadamente em robótica e em novas tecnologias de energia limpa.

A visão de Bolsonaro para a economia brasileira também destoa da visão que o seu anfitrião, o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, tem para a Arábia Saudita. Seu plano para o futuro do país, que ganhou o nome de Vision 2030, reside basicamente em diversificar a economia saudita para diminuir a dependência do petróleo.

Enquanto o mundo discute inteligência artificial e outros negócios do futuro, Bolsonaro quer entrar na Opep, a organização mundial dos exportadores de petróleo, cujo auge de influência já ficou no passado.

Não espanta que os aplausos tenham sido tão tímidos.

* O jornalista viajou a convite do governo da Arábia Saudita.

Sobre o Autor

Diogo Schelp é jornalista com 20 anos de experiência. Foi editor executivo da revista VEJA e redator-chefe da ISTOÉ. Durante 14 anos, dedicou-se principalmente à cobertura e à análise de temas internacionais e de diplomacia. Fez reportagens em quase duas dezenas de países. Entre os assuntos investigados nessas viagens destacam-se o endurecimento do regime de Vladimir Putin, na Rússia, o narcotráfico no México, a violência e a crise econômica na Venezuela, o genocídio em Darfur, no Sudão, o radicalismo islâmico na Tunísia e o conflito árabe-israelense. É coautor dos livros “Correspondente de Guerra” (Editora Contexto, com André Liohn) e “No Teto do Mundo” (Editora Leya, com Rodrigo Raineri).

Sobre o Blog

“O que mantém a humanidade viva?”, perguntava-se o dramaturgo alemão Bertolt Brecht. Essa é a pergunta que motiva esse blog a desembaraçar o noticiário internacional – e o nacional, também, quando for pertinente – e a lançar luz sobre fatos e conexões que não receberam a atenção devida. Esse é um blog que quer surpreender, escrito por alguém que gosta de ser surpreendido.