Soleimani, a morte de Nisman e o constrangimento de Cristina Kirchner

Protesto contra a morte de Nisman, em 2015 (Foto: Juan Mabromata/AFP)
Uma recém-lançada série documental do Netflix provocou um constrangimento entre o presidente argentino, Alberto Fernández, e sua vice, a ex-presidente Cristina Kirchner. O documentário intitulado "O Promotor, a Presidente e o Espião" trata da morte de Alberto Nisman, procurador federal encarregado de investigar o ataque com carro-bomba contra a associação judaica Amia, em 1994, que matou 85 pessoas. Nisman atribuiu ao Irã a realização do atentado terrorista.
Fernández é um dos entrevistados do documentário e nele afirma duvidar da hipótese de que Nisman havia se suicidado quando foi encontrado morto no banheiro de seu apartamento em Buenos Aires, em janeiro de 2015.
A afirmação desmente a tese de Cristina Kirchner, que era presidente quando Nisman morreu e por ele era acusada de tentar encobrir a participação do Irã no atentado. Kirchner foi categórica, na época, ao afirmar que o procurador havia se suicidado.
A entrevista de Fernández para a produção do Netflix foi concedida em 2017, quando ele ainda nem imaginava que poderia concorrer à presidência tendo Cristina Kirchner como companheira de chapa. Por isso, agora ele mudou de ideia. Nesta quinta-feira (2), o presidente argentino lembrou que a gravação do documentário foi feita há três anos e que não acredita existirem "provas sérias" de que Nisman tenha sido assassinado.
No mesmo dia em que Fernández voltou atrás em sua opinião sobre a morte de Nisman, os Estados Unidos bombadearam o comboio que levava o general iraniano Qassem Soleimani, chefe da Força Quds da Guarda Revolucionária do Irã.
Coincidências da vida… e da morte: entre os maiores interessados em tirar Alberto Nisman do caminho estava justamente o aparato de operações militares clandestinas do Irã (entre as quais incluem-se atividades terroristas), cujo comando estava a cargo de Soleimani.
Afinal, o relatório de Nisman sobre o caso Amia não apenas indicou o envolvimento do Irã (a parte operacional do atentado foi feita por funcionários da própria embaixada iraniana em Buenos Aires), como escancarou o fato de que o episódio não havia ficado no passado, pois o país persa continuava mantendo suas redes operacionais na América Latina, inclusive na Tríplice Fronteira entre Brasil, Argentina e Paraguai.
Além disso, o Irã estaria conspirando com outros governos da região, entre eles o do venezuelano Hugo Chávez, para abafar as investigações de Nisman e evitar as ordens de prisão contra altos integrantes de Teerã envolvidos no atentado.
O assassinato de Nisman continua sem solução e os criminosos que ele investigou escaparam impunes, exatamente como queria o governo do Irã. Se de fato houve participação dos iranianos em sua morte, ela dificilmente teria ocorrido sem a ordem direta ou o aval de Qassem Soleimani, o responsável pelas operações da Guarda Revolucionária no exterior.
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