O que mais o governo pode fazer contra a crise econômica do coronavírus

O presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, durante entrevista coletiva nesta quarta-feira, 18 (Foto: Lucio Tavora/Xinhua)
As autoridades brasileiras e os principais comentaristas da cena política dividem-se em dois grupos no que se refere à maneira de ver o impacto do novo coronavírus na economia do país. O primeiro — minoritário, mas que inclui o presidente Jair Bolsonaro — considera que as medidas sanitárias preventivas (isolamento com interrupção de atividades produtivas e serviços, por exemplo) vão provocar um estrago desproporcional e injustificável na economia. Para esse grupo, portanto, o impacto econômico tende a ser maior do que o de saúde pública e, por isso, é melhor ir adotando as medidas conforme a doença avança, apostando na possibilidade de que acabe não avançando tanto assim. O segundo grupo olha para o que aconteceu no exterior — especialmente na Itália, onde as medidas preventivas demoraram a ser aplicadas — e defende que é preciso impor barreiras duras ao alastramento do novo coronavírus antes que ele provoque um colapso no sistema de saúde.
A contragosto do primeiro grupo, a segunda visão é a que está prevalecendo no Brasil. Em parte por iniciativa voluntária de empresas que estão enviando seus funcionários para trabalhar em casa ou declarando férias coletivas, em parte por decisões de governadores que ordenaram o fechamento do comércio, por exemplo, o fato que é que o país está parando aos poucos.
Bancos estrangeiros já estão prevendo uma redução de 1% da economia brasileira este ano. Ou seja, recessão à vista.
O resultado é que esta semana, finalmente, o governo federal começou a entregar as primeiras medidas para evitar a quebradeira de empresas, o aumento do desemprego e a queda abrupta na renda dos brasileiros. Entre os principais pontos estão uma ajuda de R$ 200 por mês para trabalhadores informais que estão sofrendo com a queda na demanda por seus serviços ou que se veem obrigados a ficar em casa, a proposta de permitir a redução da jornada de trabalho com diminuição de salário (para evitar demissões, ainda que com queda da renda), adiamento de pagamento de impostos federais para empresas pequenas, a antecipação do décimo terceiro salário para aposentados, expansão de crédito via bancos públicos, ampliação do Bolsa Família e ações de socorro para os setores privados mais afetados pela crise, como o de companhias aéreas.
O pacote, portanto, tem uma combinação de medidas que se sustentam em um tripé: estimular a demanda para aquecer a economia, garantir a renda da população mais vulnerável e proteger os empregos. Trata-se de uma estratégia em linha com o que defendem alguns dos melhores economistas, principalmente no que se refere à renda e aos empregos. Mas será o suficiente?
Em outros países, estão sendo discutidas soluções ainda mais drásticas. Uma delas é bancar, com dinheiro público, a licença remunerada de todos os trabalhadores que atuam em setores afetados pelo coronavírus. Na Alemanha, por exemplo, foi autorizada uma combinação de redução de jornada de trabalho e abono estatal para compensar a perda de renda dos trabalhadores.
Outra sugestão, defendida em editorial do jornal americano The New York Times, é a de o governo distribuir um valor único para todos os habitantes do país. No caso dos Estados Unidos, 2000 dólares para cada cidadão. O senador republicano Mitt Romney sugeriu distribuir a metade disso, 1000 dólares. A ideia é que o pagamento seja feito a cada quatro meses até a crise passar. O objetivo é garantir que a população tenha dinheiro imediato para cobrir gastos essenciais e estimular a demanda. No caso da distribuição de 2000 dólares, isso custaria 660 bilhões de dólares aos cofres públicos americanos.
A terceira proposta é de oferecer empréstimos, sem juros, a todas as empresas, grandes e pequenas, e também a trabalhadores autônomos, a serem pagos em cinco anos — com a condição de que a maior parte das vagas de trabalho seja mantida. O objetivo aqui é evitar a quebradeira de empresas e manter os empregos. No caso dos Estados Unidos, a proposta custaria o equivalente a metade do PIB anual do país.
Claro que o problema de todas essas ideias é o custo monumental que teriam para os cofres públicos. Países como os Estados Unidos e a Alemanha têm mais capacidade de promover estímulos de tal monta do que o Brasil.
Ainda assim, o valor que o governo federal está disposto a despejar na economia este ano para conter os efeitos da crise causada pelo coronavírus não é desprezível. O pacote de estímulos anunciado pelo presidente americano Donald Trump equivale a 5% do PIB anual de seu país. O que foi prometido pelo ministro da Economia Paulo Guedes fica em torno de 8% do PIB brasileiro. Já o da Alemanha equivale a cerca de 15% do PIB.
A atual crise, por sua origem e pela maneira como contagia diferentes setores da economia, não tem precedentes na história. As soluções que estão sendo adotadas também não.
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