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Bolsonaro x Trump, o placar dos tuítes

Diogo Schelp

13/04/2019 09h34

Donald Trump e Jair Bolsonaro (Imagem: Gage Skidmore/Flickr e Dida Sampaio/Estadão Conteúdo)

Os presidentes Jair Bolsonaro, do Brasil, e Donald Trump, dos Estados Unidos, têm muitas afinidades. Entre elas, está a preferência por se comunicar diretamente com sua base de apoiadores por meio do Twitter, sem intermediários. A rede social serve para propagar medidas governamentais, demitir e nomear ministros e fustigar adversários. Para ambos, essa foi uma estratégia exitosa de campanha que continua sendo replicada no governo. Uma análise dos tuítes dos dois presidentes ao longo da última semana revela um pouco sobre como o momento político que cada um está vivendo se reflete na comunicação direta deles com os cidadãos.

Eis o balanço do tipo de conteúdo que eles abordaram (em porcentagem do total de tuítes entre os dias 7 e 12 de abril):

Assuntos de governo

Bolsonaro

70%

Trump

30%

Ataques à imprensa

Bolsonaro

22%

Trump

6%

Ataques à oposição

Bolsonaro

2%

Trump

55%

Outros

Bolsonaro

6%

Trump

9%

A maior diferença entre os dois, ao longo da semana, foi que Bolsonaro usou a maior parte dos seus tuítes para comunicar ações de governo. Ou seja, que é o que se espera de um chefe do Executivo. Já Trump gastou os polegares nesses temas em menos de um terço de suas postagens.

Ambos, porém, usaram o Twitter durante a semana como uma ferramenta para fazer ataques a adversários ou supostos adversários (Bolsonaro bem menos que Trump, mas ainda assim com bastante frequência). Nesse ponto, porém, houve mais uma grande diferença entre os dois: o alvo preferido de Trump foi a oposição democrata ou o que ele chama de "extrema esquerda"; já Bolsonaro virou seus canhões quase que exclusivamente contra a imprensa.

O que isso quer dizer? Trata-se de um reflexo do sistema político de cada um dos países. Trump atua em um sistema bipartidário, em que há uma margem muito estreita de manobra no Congresso, claramente dividido entre democratas (que fazem oposição a ele) e republicanos (que o apoiam em praticamente tudo). Já Bolsonaro tem que jogar no complexo tabuleiro do multipartidarismo brasileiro, onde sequer se pode esperar coesão dentro de um mesmo partido. E ele enfrenta um delicado momento para encontrar apoio para suas reformas. Por isso, faz mais sentido fazer da imprensa o bode expiatório e deixar a oposição um pouco em paz. Além disso, Bolsonaro começou a semana respondendo à divulgação da pesquisa Datafolha sobre o seu desempenho.

Vai ser interessante acompanhar o comportamento de ambos no Twitter nas próximas semanas.

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Sobre o Autor

Diogo Schelp é jornalista com 20 anos de experiência. Foi editor executivo da revista VEJA e redator-chefe da ISTOÉ. Durante 14 anos, dedicou-se principalmente à cobertura e à análise de temas internacionais e de diplomacia. Fez reportagens em quase duas dezenas de países. Entre os assuntos investigados nessas viagens destacam-se o endurecimento do regime de Vladimir Putin, na Rússia, o narcotráfico no México, a violência e a crise econômica na Venezuela, o genocídio em Darfur, no Sudão, o radicalismo islâmico na Tunísia e o conflito árabe-israelense. É coautor dos livros “Correspondente de Guerra” (Editora Contexto, com André Liohn) e “No Teto do Mundo” (Editora Leya, com Rodrigo Raineri).

Sobre o Blog

“O que mantém a humanidade viva?”, perguntava-se o dramaturgo alemão Bertolt Brecht. Essa é a pergunta que motiva esse blog a desembaraçar o noticiário internacional – e o nacional, também, quando for pertinente – e a lançar luz sobre fatos e conexões que não receberam a atenção devida. Esse é um blog que quer surpreender, escrito por alguém que gosta de ser surpreendido.


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