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Acordo UE-Mercosul torna Brexit ainda mais amargo para os britânicos

Diogo Schelp

01/07/2019 04h05

Mural em Bristol, no Reino Unidos, retrata beijo apaixonado entre Donald Trump e Boris Johnson (Foto: Geoff Caddick/AFP)

Boris Johnson, o ex-prefeito de Londres que disputa com Jeremy Hunt o posto de líder do Partido Conservador e, portanto, o cargo de próximo primeiro-ministro britânico, foi um dos principais defensores do Brexit no referendo de 2016. Depois de dois anos de negociações infrutíferas da atual premiê Theresa May por um acordo que permita ao Reino Unido sair da União Europeia sem grandes perdas comerciais, Johnson avisa que pode optar pelo caminho do "Brexit duro", ou seja, o divórcio sem acordo nenhum. É como se um marido ou mulher saísse de casa sem nunca combinar com o cônjuge quem fica com o quê ou como será dividida a guarda dos filhos.

Segundo uma pesquisa de opinião recente, se houvesse um novo referendo sobre se o Reino Unido deve ou não sair da União Europeia, 52% dos britânicos votariam para ficar e 45% para sair. Ou seja, diante do caos do processo de separação, está batendo um arrependimento nos britânicos. E esse arrependimento se torna ainda mais amargo agora que a União Europeia e o Mercosul finalizaram as negociação de um acordo de livre comércio.

A economia britânica nunca vai usufruir dos benefícios comerciais do acordo que abrirá os mercados do bloco sul-americano para as exportações europeias. Quando o acordo UE-Mercosul entrar em vigor, o que só deve acontecer dentro de alguns anos, os britânicos já terão saído do bloco europeu.

Boris Johnson tem dito que a perda dos mercados já desbravados pela União Europeia (e do próprio mercado comum europeu) será compensada pelos acordos bilaterais que o Reino Unido já está costurando individualmente.

De fato, no ano passado já começaram a ser feitos esforços com o Brasil e com o Mercosul para garantir a continuidade das regras comerciais em vigor e até de eliminação de tarifas, o que equivaleria a um acordo do tipo que a União Europeia terá com os países sul-americanos. Seria excelente se isso acontecesse. Negociar um acordo comercial separado pode ter a vantagem de ser menos complexo, por não ser necessário levar em conta os interesses de dezenas de países, como ocorre quando se negocia em bloco. Por outro lado, a força na mesa de negociação é menor.

O embaixador britânico no Brasil, Vijay Rangarajan, comemorou a conclusão das negociações da parte comercial do Acordo de Associação entre Mercosul e União Europeia, pois a vê como uma amostra das "possibilidades e capacidades dos arranjos multilaterais de comércio". Esses arranjos multilaterais, infelizmente, são rechaçados por Donald Trump, presidente do país mais rico do planeta, e por Boris Johnson, que a partir do próximo dia 22 talvez passe a comandar a quinta maior economia do mundo. Menos mal que Johnson, ao contrário de Trump, vê valor no livre comércio — se não graças a acordos multilaterais, ao menos por meio de negociações bilaterais, de país para país.

 

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Sobre o Autor

Diogo Schelp é jornalista com 20 anos de experiência. Foi editor executivo da revista VEJA e redator-chefe da ISTOÉ. Durante 14 anos, dedicou-se principalmente à cobertura e à análise de temas internacionais e de diplomacia. Fez reportagens em quase duas dezenas de países. Entre os assuntos investigados nessas viagens destacam-se o endurecimento do regime de Vladimir Putin, na Rússia, o narcotráfico no México, a violência e a crise econômica na Venezuela, o genocídio em Darfur, no Sudão, o radicalismo islâmico na Tunísia e o conflito árabe-israelense. É coautor dos livros “Correspondente de Guerra” (Editora Contexto, com André Liohn) e “No Teto do Mundo” (Editora Leya, com Rodrigo Raineri).

Sobre o Blog

“O que mantém a humanidade viva?”, perguntava-se o dramaturgo alemão Bertolt Brecht. Essa é a pergunta que motiva esse blog a desembaraçar o noticiário internacional – e o nacional, também, quando for pertinente – e a lançar luz sobre fatos e conexões que não receberam a atenção devida. Esse é um blog que quer surpreender, escrito por alguém que gosta de ser surpreendido.


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